domingo, 24 de junho de 2012

MODOS DE OLHAR O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL




Modos de olhar o desenho na  Educação Infantil
Sheila Christina Ortega e Cinthia S. Manzano

 O desenho é uma das linguagens mais associadas às atividades infantis e tradicionalmente está presente na educação infantil. Muitos são os estudos sobre o desenho da criança, com diferentes abordagens: há, por exemplo, uma tendência pedagógica que relaciona a produção infantil à expressão dos sentimentos, das emoções e dramas internos das crianças. 
Os estudos que embasam esse modo de olhar o desenho têm sido úteis à análise psicológica, quando feita por especialistas clínicos. Não é esse o caso da escola. Como, então, podemos olhar o desenho da criança na educação infantil?
Podemos considerar o ato de desenhar como a marca de uma trajetória. O desenho pode ser o registro de um movimento que aconteceu num pedaço de papel, um risco no muro, o caminho percorrido por um veículo ou o percurso que o nosso corpo desenvolve no espaço enquanto nos movimentamos. Pode ser uma brincadeira visual repleta de sentidos. 
É interessante pensar que por meio do desenho imprimimos nossa marca e delineamos nossa individualidade. Desse ponto de vista, o desenho pode ser visto como marcas, registros, vestígios. Mas não só isso. Desenhar é também uma forma de se aproximar das linguagens artísticas. Produzir arte implica em olhar para o mundo de maneira curiosa, fazer perguntas, procurar formas de entender os acontecimentos e estabelecer relações. Na educação infantil, as crianças não produzem arte o tempo todo, mas as experiências que elas tem com a linguagem do desenho as envolvem em um intenso processo de imaginação e criação. Esse processo está ligado ao desenvolvimento da sensibilidade estética, do fazer artístico e da construção de narrativas.  

Toda criança desenha


Tendo um instrumento que deixe uma marca: a varinha na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando sua marca, criando jogos, contando histórias.
Desenhando cria em torno de si um espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço de criação lúdico.
A criança desenha para brincar [...].[...] Entendendo por desenho o traço no papel ou em qualquer superfície, mas também a maneira como a criança concebe seu espaço de jogo com os materiais de que dispõe.


[...] O que é preciso considerar diante de uma criança que desenha, é aquilo que ela pretende fazer: contar-nos uma história e nada menor do que uma história. Mas devemos também reconhecer, nessa intenção, os múltiplos caminhos de que ela se serve para exprimir aos outros a marcha dos seus desejos, de seus conflitos e receios. Porque o desenho é para a criança uma linguagem como o gesto ou a fala.A criança desenha para falar e poder registrar sua fala.
Para escrever.(Ana Angélica Albano Moreira – O espaço do desenho: a educação do educador. Ed. Loyola, 1995. Cap. 1 “O desenho da criança”.)


A atividade de desenhar também pode ser vista como uma forma de criar limites, sejam eles reais ou imaginários. Atividade que permite construir novas estruturas no espaço, inventá-los. Cada criança possui diferenças individuais ao organizar seu espaço de brincadeira e construir seus desenhos. A criança desenha para brincar e, ao fazer isso cria ao seu redor um espaço de jogo. Por isso, podemos dizer que é desenho até mesmo o modo como a criança organiza seus brinquedos, por onde andam seus carrinhos e como organiza os gravetos e folhas ao brincar no parque. Quando proporcionamos bons espaços e boas oportunidades para a criança brincar enquanto desenha, a criação e a expressão acontecem globalmente: o corpo participa da criação. E é também nesse sentido que se pode entender o desenho como movimentação e atitude infantis uma vez que o gesto, ao tornar-se exercício para a individualidade, apreende desenho também como atitude.
Se dermos às crianças a mesma liberdade no processo artístico que lhes damos em suas brincadeiras, as crianças chegarão a excelência no aprimoramento do processo criativo. A
Em todos esses casos, é importante ao planejamento da educação infantil garantir que a criança possa escolher como se expressar. O adulto precisa estar atento, percebendo seus sinais não para direcionar ou adequar o desenho da criança a uma norma ou padrão estético, mas sim para alimentar o processo de investigação artístico que é tão caro às crianças. Dessas investigações e descobertas é que nascem as interações, um processo dinâmico que proporciona o desenvolvimento da linguagem artística e o cultivo da curiosidade infantil.
No trabalho educativo de crianças pequenas, é muito importante que o professor crie contextos para a exploração dos processos ligados à produção artística. Nesse sentido, pode organizar propostas de atividades que despertem a curiosidade das crianças e o olhar investigativo sobre diferentes aspectos da vida cotidiana: como posso expressar o que sinto, o que desejo, como vejo e me relaciono com o outro, uma ideia etc.


* fonte: http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Documentos/Publicacoes/Cad_Rede/cinco%20atualizados/Desenho_grafica.pdf

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