A EXPLORAÇÃO DE OBJETOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Marina Marcondes Machado
Você sabia que … o
modo animista de olhar o mundo é a chave de todo o teatro de animação, bem como
elemento fundamental em diferentes artes, incluindo desenhos animados e cinema?
Na formação de
professores em 2010, o experimento apelidado por nós “Era uma vez um pano que
não queria ser pano” foi, das quatro experiências propostas no curso “Práticas
teatrais junto a crianças de zero a seis anos”, o mais bem sucedido. Foi
proposto para professores de CEI e EMEI que realizassem o seguinte experimento
teatral:
Primeiro experimento (Materiais)
Descrição: Pegue um pedaço de pano, que poderá ser uma fralda ou uma
toalha, desde que não tenha desenhos ou imagens figurativas. Explore pela
movimentação as possibilidades de transformar o pano em outros objetos.
Como eu faço:
Dobrando, amassando, esticando, prendendo no corpo... e essas ações
transformarão o pano em outros objetos, tudo menos toalha ou fralda.
Para CEI: Esta proposta será desenvolvida pelo
professor narrador, que poderá criar uma história que propõe a transformação do
pano. Outra possibilidade é de exploração desta transformação com o apoio de
uma música como trilha sonora, que promova diferentes movimentos e, consequentemente,
novos modos para o pano.
No decorrer deste
experimento por parte do professor, observe a reação das crianças. Terminada a
ação do adulto, ofereça um pano para cada criança explorar, e registre as
formas pelas quais ela movimentou o pano. Não dê qualquer orientação para as
crianças, mesmo que o movimento delas não vá para a direção esperada.
Para EMEI: Para as
crianças de EMEI, ofereça um pano para cada uma e explore a movimentação dos
mesmos. Crie, junto com as crianças, uma narrativa da transformação do pano.
Esta história narrada
pela professora junto com os alunos será acompanhada pela movimentação e novas
ideias das crianças.
A expectativa dos
formadores era de que, até o final do curso: a professora percebesse que
algumas brincadeiras, especialmente as de faz de conta, são passíveis de se
chamarem “teatro”; que ela não precisa esperar um “jeito certo” de realizar a
atividade teatral proposta – uma vez que o pano poderia virar qualquer coisa -
que a brincadeira seria vista como um desvio de percurso, ou seja, que as
professoras compreendessem a íntima relação entre faz de conta e prática
teatral; e que a hipótese de dar vida a um pedaço de pano fosse uma forma de
aproximação com a linguagem, sentimento e pensamento infantis. É a isso que a
Psicologia chama animismo.
Agora, a partir também
do registro em fotografias das crianças do B II fazendo o teatro do “pano que
não queria ser pano” do CEI Jardim Shangrilá, professora Elisângela Aparecida
de Freitas, vamos procurar discernir como e por que esta experiência teatral
foi tão bem sucedida. Se a princípio as professoras estranham a abordagem
fictícia do exercício que quer dar voz a um pano, inclusive fazendo-o não
querer “ser” o que ele era – um simples pano! – quando trabalharam junto às
crianças, perceberam sua adesão imediata. Do nosso ponto de vista a adesão
imediata se dá pelo inusitado do jogo, bem como por uma espécie de animismo que
o pensamento sincrético e polimorfo da criança pequena revela.
Quem sabe cada criança
pequena já se sentiu, ela mesma,“tudo menos uma criança pequena”? Isso também
dá significação para a alegria dos rostos e da viva corporalidade de cada um
nas imagens fotográficas, e poderíamos então dizer que as crianças
identificam-se com o pedaço de pano: no momento do exercício, algo próprio da
criança se presentifica no pano. Uma professora fez o experimento com folhas de
papel sulfite:
“Era uma vez um papel
que não queria ser papel… ele estava triste…”, e entregou uma folha para cada
um; a criança, ao fazer uma pequena dobradura, que seria de um passarinho,
pergunta para sua professora:
“Agora o papel está
mais feliz?” Nesta condução, a professora no papel de narradora “deu emoções”
para o papel; pensamos que melhor seria que o papel ou o pano “quisessem” e
“precisassem” se transformar: simples assim. E que as emoções surgissem das
interpretações das crianças para como e por que um pano não quer ser pano.
Nesse sentido a
palavra-chave deste exercício é transformação. Elementos conjugados de
transformação e animismo fazem desta aula de iniciação às práticas teatrais um
grande sucesso junto a crianças de zero a seis anos.
“O animismo não é algo
que desapareça com a idade”
(…) Falar de animismo é
falar de afetividade, pois o
animismo é um laço
(afetivo) que se cria entre
o homem e o mundo. Tal
laço não desaparece com a
idade e é ele que
possibilita que o imaginário de cada
um se construa.
(…) Pelo animismo o
mundo transforma-se,
ou melhor, é outro
desde o início, pois o animismo
guia-se pela
afetividade e esta “não pensa o ser
como objeto, vive-o”.
(…) Só quando o
educador se ventura no caminho
do imaginário, quando o
reconhece como sendo
diferente do da
objetividade científica, do da
percepção e ainda do
dos conceitos do senso
comum, quando se dispõe
a ler e a falar a
linguagem que lá se
fala, que é essencialmente
afetiva, quando deixa
que as imagens que o habitam,
procurem, afastem,
abracem, destruam outras imagens,
isto é, se mantenham
vivas, só então o educador
habitará o espaço da
ilusão e acreditará no
Fantoche – um dos seus
habitantes –
COMO ALGUÉM.”
In O Fantoche Que Ajuda a Crescer
Isabel Alves Costa & Felipa Baganha
Para que as crianças
possam viver experiências de “ser”, “imaginar”, “criar”, é preciso que seus
professores priorizem isto. Um trabalho assim só pode se desenvolver se o
professor for alguém profundamente interessado em compreender como as crianças
pensam, o que elas dizem, o que fazem, como brincam e os temas que surgem em
seu
repertório lúdico. (Orientações Curriculares: Expectativas de aprendizagens
e Orientações didáticas para Educação Infantil/ SME-DOT-EI,São Paulo, 2007.
p.128)
3 comentários:
Muito interessante este post. Adoro trabalhar assim. A gente aprende junto com os pequenos. Gostei muito do espaço e com certeza retornarei aqui mais vezes. Gostaria de convidá-la para postar esse trabalho lá no blog Educação em Foco. É um blog coletivo onde procuramos informar, aprender e compartilhar. Toda terça temos o post de um leitor ou de um amigo. Creio que seria muito interessante termos sua participação lá. Este assunto deve ser levantado sempre em nossas escolas.
=) Bom aqui está o link para conheceres o blog: http://redeeducacaoemfoco.blogspot.com.br/
E este é o e-mail para o envio do post se aceitares o convite. Saibas que serás muito bem vinda!
redeeducacaoemfoco@gmail.com
Olá querida!
Seu Blog é maravilhoso.
Sabemos que ser educador é um sacerdócio,e isto é para poucos.
PARABÉNS E Obrigada!!!
Olá Educadora Priscila, estou aqui para conhecer um pouco do seu trabalho/blog. Vejo que sua missão é uma das mais gratificantes, promover o conhecimento. É verdade que ganhamos pouco, mas somos recompensados de outros prazeres da profissão.
Educadora, permita-me deixar um link de um projeto para unir ainda mais o nosso trabalho/prazer, o blog. Trata-se de um espaço que divulga outros blogs ligados diretamente à educação, o Educadores Multiplicadores. (A parceria é justa, sincera e dinâmica). Venha fazer parte desta Família e torne-se um Multiplicador(a)!
Quando tiver um tempinho e caso queira mais informações leio o texto no link abaixo:
http://www.educadoresmultiplicadores.com.br/2012/06/seja-um-educador-multiplicador-divulgue.html
http://www.marquecomx.com.br/
Abraços sinceros, fiquemos na Paz de Deus e até breve.
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