domingo, 4 de agosto de 2013

UMA HISTÓRIA DA LEITURA

 Alberto Manguel



O trecho que segue foi extraído do livro Uma História da Leitura, do escritor  argentino Alberto Manguel. Trata-se de um estudo profundo sobre o que a história registrou dos movimentos da leitura, desde as placas de argila da Suméria até os cibertextos ultramodernos. Manguel tem com a leitura uma convivência muito especial. Além de ensaísta, organizador de antologias, tradutor, editor e romancista, ele trabalhou dois anos como leitor do escritor (também argentino) Jorge Luís Borges, quando este já estava quase cego. Lendo para Borges (dos 16 aos 18 anos), o já apaixonado leitor tornou-se incurável! Uma História da Leitura é uma obra fundamental para todos os que desejam conhecer um pouco melhor a maravilhosa trajetória dos livros e seus diversos atores. Além de informações históricas preciosas, recheadas de relatos de sua própria vivência em meio aos livros, Manguel nos convida a refletir sobre a atividade da leitura e suas diversas “funções” e o nosso papel de leitor sob inusitados pontos de vista. Por esses bons motivos, selecionamos estes trechos das suas mais de 400 (belíssimas) páginas: 
(...) 
E, contudo, em cada caso é o leitor que lê o sentido; é o leitor que confere a um objeto, lugar ou acontecimento certa legibilidade possível, ou que a reconhece neles; é o leitor que deve atribuir significado a um sistema de signos e depois decifrá-lo. Todos lemos a nós e ao mundo à nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos para compreender, ou para começar a compreender. 
Não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa função essencial. Só aprendi a escrever muito tempo depois, aos sete anos de idade. Talvez pudesse viver sem escrever, mas não creio que pudesse viver sem ler. Ler – descobri – vem antes de escrever. Uma sociedade pode existir – existem muitas, de fato – sem escrever, mas nenhuma sociedade pode existir sem ler. De acordo com o etnólogo Philippe Descola, as sociedades sem escrita têm um sentido linear do tempo, enquanto nas sociedades ditas letradas, o sentido do tempo é cumulativo; ambas as sociedades movem-se dentro desses tempos diferentes, mas igualmente complexos, lendo uma infinidade de sinais que o mundo tem a oferecer. 
Mesmo em sociedades que deixaram registros de sua passagem, a leitura precede à escrita; o futuro escritor deve ser capaz de reconhecer e decifrar o sistema social de signos antes de colocá-los no papel. Para a maioria das sociedades letradas – para o Islã, para sociedades judaicas e cristãs, como a minha, para os antigos maias, para as vastas culturas budistas – ler está no princípio do contrato social; aprender a ler foi meu rito de passagem. 
(...) 
Seguindo os ensinamentos de Aristóteles, Agostinho sabia que as letras, “inventadas para que possamos conversar até mesmo com o ausente”, eram “signos de sons” que, por sua vez, eram “signos das coisas que pensamos”. O texto escrito era uma conversação, posta no papel para que o parceiro ausente pudesse pronunciar as palavras destinadas a ele. 
As palavras escritas, desde os tempos das primeiras tabuletas sumérias, destinavam-se a ser pronunciadas em voz alta, uma vez que os signos traziam implícito, como se fosse sua alma, um som particular. Diante de um texto escrito, o leitor tem o dever de emprestar voz às letras silenciosas, a scripta, e permitir que elas se tornem, na delicada distinção bíblica, verba, palavras faladas – espírito. As línguas primordiais da Bíblia – aramaico e hebreu – não fazem diferença entre o ato de ler e o ato de falar: dão a ambos o mesmo nome. 
Nos textos sagrados, nos quais cada letra e o número de letras e sua ordem eram ditados pela divindade, a compreensão plena exigia não apenas os olhos, mas também o resto do corpo: balançar na cadência das frases e levar aos lábios as palavras sagradas, de tal forma que nada do divino possa se perder na leitura. 
Minha avó lia o Velho Testamento dessa maneira, pronunciando as palavras e movendo o corpo de um lado para o outro, ao ritmo da prece. Posso vê-la em seu apartamento sombrio na Barrio del Once, o bairro judeu de Buenos Aires, entoando as palavras antigas do único livro da casa, a Bíblia, cuja capa preta lembrava a textura de sua própria tez pálida amolecida pela idade. Também entre os muçulmanos o corpo inteiro participa da leitura sagrada. No Islã, saber se um texto sagrado é para ser ouvido ou lido é uma questão de importância essencial... O estudioso de leis e teólogo Abu Hamid Muhammad al-Ghazali estabeleceu uma série de regras para estudar o Corão, segundo as quais ler e ouvir o texto lido tornaram-se parte do mesmo ato sagrado. A regra número cinco estabelecia que o leitor deve seguir o texto lentamente e sem nenhum atropelo a fim de refletir sobre o que está lendo. A regra número seis mandava “chorar. [...] Se não consegues chorar naturalmente, então força-te a chorar”, pois o pesar deve estar implícito na apreensão das palavras sagradas. A regra número nove exigia que o Corão fosse lido “alto o suficiente para que o leitor o escutasse, porque ler significa distinguir entre sons”, afastando assim as distrações do mundo externo. 
(...) 
Até boa parte da Idade Média, os escritores supunham que seus leitores iriam escutar, em vez de simplesmente ver o texto, tal como eles pronunciavam em voz alta as palavras à medida que as compunham. Uma vez que, em termos comparativos, poucas pessoas sabiam ler, as leituras públicas eram comuns e os textos medievais repetidamente apelavam à audiência para que “prestasse ouvidos” à história. Talvez um eco ancestral dessas práticas de leitura persista em algumas de nossas expressões idiomáticas, como quando dizemos “este texto não soa bem” (significando “não está bem escrito”); ou ainda este livro “fala” sobre revoluções e não este livro “trata” de revoluções. 
(...) 
Ler em voz alta, ler em silêncio, ser capaz de carregar na mente bibliotecas íntimas de palavras lembradas são aptidões espantosas que adquirimos por meio incertos. Todavia, antes que essas aptidões possam ser adquiridas, o leitor precisa aprender a capacidade básica de reconhecer os signos comuns pelos quais uma sociedade escolheu comunicar-se: em outras palavras, o leitor precisa aprender a ler. Claude Lévi-Strauss conta-nos que no Brasil, durante sua temporada entre os nhambiquaras, ao vê-lo escrever, eles pegaram o lápis e o papel, desenharam rabiscos imitando a escrita e pediram-lhe que "lesse” o que tinham escrito. Os nhambiquaras esperavam que seus rabiscos fossem tão imediatamente significantes para Lévi-Strauss quanto os que ele mesmo fizera. Para o antropólogo, que aprendera a ler numa escola européia, a noção de que um sistema de comunicação pudesse ser imediatamente compreensível a qualquer outra pessoa parecia absurda. Os métodos pelos quais aprendemos a ler não só encarnam as convenções de nossa sociedade em relação à alfabetização – a canalização da informação, as hierarquias de conhecimento e poder -, como também determinam e limitam as formas pelas quais nossa capacidade de ler é posta em uso. 
(...) 
Em todas as sociedades letradas, aprender a ler tem algo de iniciação, de passagem ritualizada para fora de um estado de dependência e comunicação rudimentar. A criança, aprendendo a ler, é admitida na memória comunal por meio de livros, familiarizando-se assim com um passado comum que ela renova, em maior ou menor grau, a cada leitura. Na sociedade judaica medieval, por exemplo, o ritual de aprender a ler era celebrado explicitamente. Na festa de Shavuot, quando Moisés recebia a Torá das mãos de Deus, o menino a ser iniciado era envolvido num xale de orações e levado por seu pai ao professor. Este sentava o menino ao colo e mostrava-lhe uma lousa onde estava escrito o alfabeto hebraico, um trecho das Escrituras e as palavras “Possa a Torá ser tua ocupação”. O professor lia em voz alta cada palavra e o menino as repetia. A lousa então era coberta com mel e a criança a lambia, assimilando assim, corporalmente, as palavras sagradas. 
(...) 
Cuba, 1865. Saturnino Martínez, charuteiro e poeta, teve a idéia de publicar um jornal para os trabalhadores da indústria de charutos, abordando não somente a política, mas publicando também artigos sobre ciência e literatura, poemas e contos. 
Com o apoio de vários intelectuais cubanos, Martínez lançou o primeiro número de La Aurora em 22 de outubro daquele ano. O editorial anunciava: “Seu objetivo será iluminar de todas as formas possíveis aquela classe da sociedade a que se dedica. 
Faremos tudo para que todos nos aceitem. Se não tivermos êxito, a culpa será de nossa insuficiência, não de nossa falta de vontade”.
(...) 
Mas Martínez logo percebeu que o analfabetismo impedia que La Aurora se tornasse realmente popular; na metade do século XIX, apenas 15% da população cubana sabia ler. A fim de tornar o jornal acessível a todos os trabalhadores, ele teve a ideia de realizar uma leitura pública. Aproximou-se do diretor do ginásio de Guanabacoa e sugeriu que a escola auxiliasse a leitura nos locais de trabalho. 
Entusiasmado, o diretor encontrou-se com os trabalhadores da fábrica El Fígaro e, depois de obter a permissão do patrão, convenceu-os da utilidade da empreitada. Um dos operários foi escolhido como lector oficial, e os outros o pagavam do próprio bolso. Em 7 de janeiro de 1866, La Aurora noticiava: “A leitura nas fábricas começou pela primeira vez entre nós e a iniciativa pertence aos honrados trabalhadores da El Fígaro. Isso constitui um passo gigantesco na marcha do progresso e do avanço geral dos trabalhadores, pois dessa maneira eles irão gradualmente se familiarizar com os livros, fonte de amizade duradoura e grande entretenimento”. Entre os livros lidos estavam o compêndio histórico Batalhas do Século, romances didáticos como O Rei do Mundo, do atualmente esquecido Fernández y González, e um manual de economia política de Flórez y Estrada. 

Fonte: Uma História da Leitura Autor: Alberto Manguel - Editora Companhia das 
Letras – São Paulo – 1997 


domingo, 28 de julho de 2013

A ORGANIZAÇÃO PRÁTICA - LEITURA E LEITORES

Célia  Nascimento


Heráclito nos ensina que “ninguém desce duas vezes o mesmo rio, pois suas águas mudam constantemente”. O texto também muda a cada leitura porque o leitor coloca nele sua vivência, sua sensibilidade, sua visão particular do mundo e sua atitude naquele momento.
Trabalhar com a leitura na escola é querer descer o rio centenas de vezes. Mais que gostar de ler, é preciso ter extrema paciência com os textos e com as descidas, que não se esgotam jamais.
Possuir uma biblioteca, ou uma sala especial para a leitura, é uma importante conquista da escola para o desenvolvimento das atividades pedagógicas e para a formação de leitores. Ali,  todo o espaço, todo o tempo e toda a energia se destinam à prática de ler.
Os alunos precisam reconhecer na biblioteca (ou na sala de leitura) um local para o pleno exercício da leitura, para o acesso à informação e para tudo aquilo que pode estar na alquimia portador-texto-leitura. Com tal reconhecimento, esse ambiente já terá cumprido um importante papel: seduzir os alunos para seus encantos.
Exista ou não um ambiente privilegiado, o mais importante é mesmo o trabalho de leitura que se faz. A formação de leitores não depende da existência de um local determinado.
São infinitas as possibilidades de transformar a escola toda em espaço de leitura, principalmente a sala de aula – lugar eleito pela cultura escolar como privilegiado para os principais aprendizados.
É fundamental a existência, na escola, de um acervo organizado com carinho e com critério a partir das necessidades locais, abrangendo as distintas áreas de conhecimento, a diversidade de textos e de portadores: livros, revistas, gibis, jornais, folhetos e outros materiais.
Sempre que possível, convém complementar o acervo impresso com recursos da tecnologia de comunicação e informação: computador, aparelho de tevê, vídeo, som e outros.
Com o objetivo de formar usuários competentes da escrita e da informação, esses materiais e recursos precisam ficar sempre ao dispor dos alunos para que possam ser amplamente utilizados por eles.
O ideal é que se estabeleça um projeto compartilhado de leitura. Definindo coletivamente  as metas que pretendem alcançar em relação à prática de leitura, os educadores facilitam o próprio trabalho. Se não houver possibilidade de um educador assumir a coordenação geral, é  possível dividir as tarefas, partilhando entre vários professores a responsabilidade pelo projeto e  por seus desdobramentos.
A escrita e a leitura são instrumentos básicos em todas as áreas: os conteúdos de história, geografia ou ciências também são trabalhados por meio de textos. A própria matemática, muitas vezes considerada a vilã da escola, encanta quando a lemos através da obra  de Malba Tahan!
A leitura de materiais interessantes que tratam de conteúdos das diferentes áreas, habitualmente chamada complementar, na verdade é essencial. Por todas essas razões, a leitura  pode ter uma função aglutinadora, potencializando a construção de um projeto que envolve todos  os educadores. 
Mas nem só de leitura vivem os leitores... Não se pode esquecer da importância que tem  o contar. Toda a literatura vem da maravilhosa necessidade do homem de contar, contar e recontar histórias. Contar uma história é representar e, de certa forma, produzir um novo texto. É  um trabalho de co-autoria entre contador e autor.

Quando há uma biblioteca na escola
O trabalho de leitura na biblioteca pode ser organizado de diferentes maneiras: por faixa etária, por projetos de série, por necessidades específicas ou por outros critérios.
Uma excelente ideia consiste em dedicar um período a certos temas ou a certas necessidades: semana de contos de fadas, de folclore, de mitologia, de lendas, de contos de outros países ou de crônicas. Pode-se preparar uma ambientação adequada para cada assunto, aguçando a curiosidade dos alunos e mobilizando suas emoções.
Por exemplo, em uma eventual Semana de Contos Africanos, vale a pena conversar, mostrar imagens e ouvir músicas relacionadas com a África, falando da história e dos costumes do continente. Assuntos como contos de fada, folclore, mitologia, romances de cavalaria, histórias de humor ou grandes clássicos criam boas ocasiões para ambientações fantasiosas.
O empréstimo de livros, por sua vez, é uma prática que amplia o espaço da biblioteca até a casa  dos alunos, fazendo da leitura uma prática cotidiana. A possibilidade de levar livros para ler em casa contribui para o desenvolvimento de atitudes e procedimentos próprios de leitores reais: 
responsabilidade, cuidado, desenvolvimento de critérios de seleção para optar pela obra a tomar emprestada.
É sempre bom que o conteúdo do livro lido em casa seja socializado com os colegas de classe:  em rodas de leitura, por exemplo, nas quais os alunos contam o que leram, o que sentiram, o que aprenderam e o que mais gostaram em sua leitura.


E se não houver (ainda) uma biblioteca?
Tudo que se pode fazer em uma biblioteca, além do principal, que é a atividade de leitura, pode também ser feito na sala de aula: ambientações, “semanas” ou sistemas de empréstimo.
Inúmeras experiências extremamente bem-sucedidas em escolas que não dispõem de espaço para a biblioteca podem servir como exemplo. A proposta relatada a seguir já foi validada pelo sucesso e pela eficácia em várias escolas, como nas escolas estaduais da cidade paulista de Mogi das Cruzes.
Trata-se do projeto de um acervo circulante, uma prática simples, de baixo custo e de fácil implementação.
O primeiro passo consiste em fazer a coleta e/ou a seleção de materiais de leitura, tendo como  critérios a qualidade e a diversidade. Os livros são colocados em caixas, com uma relação de todos os títulos.
Em seguida, os professores montam, em conjunto, um horário que garanta 20 ou 30 minutos de  leitura diária em cada classe e um esquema de circulação dos livros entre as classes. Todos convencidos de que esse será um tempo ganho, e não perdido, é só começar.
O horário previsto deve ser rigorosamente respeitado para não atrapalhar a rotina do próximo professor a receber o acervo. Terminado o tempo, os alunos param de ler no ponto em queestiverem - no dia seguinte, os livros virão novamente e eles poderão continuar a ler. Esse tipo de acervo não comporta o empréstimo de livros para os estudantes lerem em casa.
Enquanto os alunos estão lendo, o professor deve fazer a mesma coisa: nada de aproveitar o tempo para outras atividades (e nada de dispensar o acervo porque hoje temos coisas mais importantes a fazer).
A condição principal para o sucesso dessa proposta é a disciplina para realizá-la diariamente.
Assim se garante a prática permanente de leitura na classe – alem de muitas outras atividades que  se pode inventar.
Mesmo que haja uma biblioteca na escola, outra proposta importantíssima consiste em manter um acervo de materiais de leitura na própria sala de aula – a chamada biblioteca de classe.
Isso pode ser feito com doações das famílias, da comunidade e dos amigos. Se houver necessidade, e se for possível, o professor pode pedir para cada aluno comprar/doar um livro para montar esse acervo.
Nesse caso, cada criança precisa trazer um título diferente; em uma classe de 36 alunos, por exemplo, todos poderão ter a oportunidade de ler pelo menos 36 livros, considerando apenas o acervo da classe. Esse acervo precisa ser mantido em um armário, em uma estante ou em caixas, asseguradas as boas condições de armazenamento e conservação.

Para montar uma biblioteca
O espaço
A imagem clássica de biblioteca nos remete a uma sala ampla, muito silenciosa e com ambiente austero. No entanto, esse cenário sofreu profundas modificações, principalmente nas bibliotecas infantis: hoje as salas têm almofadas, tapetes, mesinhas... Até o silêncio é menos rigoroso, dando chance ao zunzunzum.
Todavia, mesmo que tenha perdido a austeridade, a biblioteca permanece intacta naquilo que podemos chamar sacralidade: continua a ser um lugar privilegiado para o mergulho na leitura. O espaço dedicado a ela talvez não tenha todos os atrativos de conforto e beleza desejáveis, mas ela precisa resguardar algumas características importantes:
* Ser arejada e limpa, para o bem-estar dos leitores e a boa conservação do material ali guardado;
* Ter espaço para os alunos sentarem: chão ou cadeiras. Muitas vezes, o chão é a melhor opção, pois sem móveis se ganha maior mobilidade e o nível de ruído pode ser mais baixo;
* Ser agradável: limpa, bem arrumada, organizada, com quadros e pôsteres na parede;
* Dispor de recursos que permitam utilizar o espaço para outras atividades: por exemplo,cortinas pretas para as portas e janelas, permitindo a projeção de filmes;
* Ser distante de locais de muita circulação ou onde ocorram atividades ruidosas: quadra, cantina ou pátio.

A utilização dos materiais
Os alunos precisam se sentir parte integrante do projeto de leilura na escola, usuários competentes de todo o saber documentado e acumulado nos textos que compõem o acervo. O conhecimento é democrático. Quanto mais os materiais forem lidos e utilizados, mais fácil e eficiente será a alquimia portador-texto-leitura.
É interessante garantir pelo menos uma aula semanal de biblioteca para cada classe e nessa ocasião apresentar, sempre que houver, as novidades do acervo. Além dessa aula, os alunos devem poder visitar, pesquisar e realizar empréstimos em horários definidos – horários que  precisam ser bem elásticos.
O espaço da biblioteca é, acima de tudo, um espaço de convivência. É fundamental permitir que  as crianças escolham os livros. Em um primeiro momento, talvez optem por livros com pouco texto. Mas, à medida que forem compartilhando, aprendendo e valorizando o ato de ler, com certeza suas escolhas se tornarão cada vez mais autônomas e pessoais.
O empréstimo de livros aumenta as chances e as oportunidades de ampliação do repertório de leitura e do nível de conhecimento do aluno. Uma boa ideia consiste em convidar também os pais de alunos para frequentar a biblioteca da escola. Quantos já tiveram essa oportunidade?
Quando as crianças puderem levar os materiais de leitura para casa, para estudar ou apenas para ler, é fundamental valorizar esse empréstimo, lembrando sempre que a leitura pode ser compartilhada por toda a família. 
Uma parte do acervo da escola pode ser cedida para a organização das bibliotecas de classe.
Também na classe os alunos precisam conviver com materiais de pesquisa e leitura – além disso, a sala de aula é um espaço privilegiado de socialização de preferências, impressões e opiniões a respeito dos textos lidos. E todos sabemos que um livro bem contado gera muitos candidatos a sua leitura.

O acervo
Atualmente, o mercado oferece uma infinidade de produtos que podem representar valiosos recursos de consulta: mapas geográficos, históricos e científicos; uma quantidade imensa de livros paradidáticos muito bem escritos e ilustrados; vídeos e DVDs históricos, científicos e de arte, muitos deles vendidos em bancas de jornal (alguns são muito bons, mas outros, de baixa qualidade. Antes de decidir comprar, procure obter informações).
O acervo não deve prescindir de revistas (principalmente as de ciências, as geográficas e as de educação), jornais, histórias em quadrinhos, boas fitas de música – que podem ser gravadas com  a ajuda de alunos – e, evidentemente, de um bom dicionário e uma boa enciclopédia.
A organização do acervo precisa ser feita de forma funcional, atendendo às necessidades da escola. Mais importante do que adotar normas internacionais de catalogação e distribuição do material é uma organização racional e harmônica, que deixe tudo à mão para o aluno localizar com facilidade e utilizar.

Para compor ou ampliar o acervo
A seguir, algumas sugestões para criar e organizar o acervo da escola.
* Solicitar catálogos às editoras e livrarias. Eles permitem conhecer os títulos disponíveis e com frequência contêm informações e dicas a respeito dos livros.
* Quando possível, solicitar a visita de representantes de editoras (ou inserir a escola em seus cadastros). É comum as editoras doarem livros para análise e conhecimento. Além disso, elas mantêm a escola informada acerca dos lançamentos.
* Acompanhar os lançamentos editoriais em jornais, revistas ou outras fontes.
* Solicitar doações a editoras, livrarias, bibliotecas públicas, museus, centros culturais e a instituições ligadas à educação e grandes empresas, que costumam editar livros  comemorativos (Sesc e Senac, por exemplo).
* Sempre que possível, garimpar sebos à procura de raridades – ou mesmo de livros não raros, mas de custo reduzido.
* Acompanhar a programação da tevê para selecionar programas que possam ser gravados.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

BIBLIOTECA COMO AGENTE CULTURAL

Célia Nascimento

Acreditamos que a biblioteca seja um local privilegiado para a discussão e fomentação cultural da escola. Raramente encontramos nas escolas departamentos culturais organizados como tais, e as bibliotecas conseguem suprir essa lacuna de maneira bastante eficaz. Tendo em seu acervo inúmeros materiais e recursos à sua disposição, a biblioteca ou sala de leitura pode tornar-se local de referência para as atividades culturais da escola e ponte para as atividades culturais da cidade.
Seja realizando tarefas simples, como manter um painel de informações dos eventos culturais publicados em jornais e revistas, seja sendo o agente responsável pela realização de eventos na escola, a biblioteca pode responsabilizar-se por auxiliar a levar cultura e entretenimento aos alunos, pais e educadores. Falamos em auxiliar, pois essa é uma tarefa que  compete a outras instâncias também.
Acreditamos também que atividades culturais sejam imprescindíveis na escola: música, teatro, literatura, cinema fazem parte de um universo que deve ser apresentado aos alunos. Abrir as portas da biblioteca para outras atividades, mostrando um território fértil depossibilidades, enriquece o próprio espaço e fortalece vínculos com a comunidade escolar. 
Pela própria natureza de sua atividade, a biblioteca tem a chance de conhecer todos osprojetos que estão em curso nas salas de aula e atuar fortemente como agente cultural, criando situações de potencialização dos conteúdos.
O rol de atividades que a biblioteca pode fazer é grande e os responsáveis pelas atividades devem buscar seus melhores caminhos. Convidar escritores e ilustradores para o lançamento de livros ou bate-papo com os alunos, promover sessões de cinema, exposições de arte, audição de música, buscar espetáculos de teatro, exposições em museus e outros locais são alguns exemplos. Esses eventos podem estar diretamente relacionados com projetos em sala de aula ou não-aula.
Muitas vezes, acontece de a cidade estar promovendo algum tipo de atividade cultural completamente relacionada com algum projeto. Assim, não se deve perder a oportunidade de fazer uma nova leitura ou complementar informações dos conteúdos estudados auxiliados pela atividade cultural. Em São Paulo, por exemplo, temos museus temáticos que são constantemente visitados por estarem em sintonia com muitos projetos, como o Museu da Imigração, o Museu Paulista, o Museu de Anatomia e o Museu do Folclore, entre outros. Às vezes "o planeta confabula a favor" e acontecem felizes coincidências, como o caso de nossas as séries acabarem de ler o conto A Ilha Desconhecida, de Saramago, e um grupo teatral montar um  espetáculo justamente calcado nesse conto! É preciso ficar de olho no que está acontecendo para não perder oportunidades desse tipo.
Não se pode esquecer do papel fundamental da parceria. Educadores e bibliotecários, ou responsáveis por sala de leitura, podem pensar juntos atividades que venham enriquecer o cotidiano da sala de aula. Evidentemente que eventos que não estejam relacionados com conteúdos são muito bem-vindos, afinal o que se pretende é a inserção dos alunos a um leque  variado de opções que os auxilie a ler melhor o mundo que os cerca.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

ATIVIDADES PARA PERÍODO DE ADAPTAÇÃO


Período de adaptação - "Nos conhecemos pelas mãos de Paulina"

Expectativas a serem alcançadas:

Que as crianças:
* Conheçam a sua sala e familiarizem com os objetos e os espaços da mesma;
* Iniciem a inter-relação com os colegas e professores de sua sala;
* Consigam separar-se progressivamente das mães ou familiares.

Objetivos:
* Oferecer à criança possibilidades de participar de brincadeiras de integração para que consigam gradativamente integrar-se com seus colegas e desenvolver-se junto a eles;
* Favorecer um ambiente facilitador e um clima afetivo que possibilite a criança sentir-se seguro e confiante.

Conteúdos:
 Área sócio-afetiva:
- Reconhecer e relacionar-se afetivamente com os adultos e com as crianças de seu grupo.
- Integração em seu grupo, reconhecendo a pertinência com o mesmo.
- Progressiva aquisição de alguns modelos, normas e atividades próprias do funcionamento grupal.
- Início da autonomia frente as necessidades individuais.

Área cognitiva:
- Expressão das necessidades, desejos, sensações, pedidos, interações através da linguagem verbal, gestual e de movimentos corporais.
- Exploração de materiais e ferramentas úteis para as atividades plásticas.
- Apreciação de contos, poesias, músicas de diferentes gêneros.

Área psicomotora:
- Conquista e prazer diante de um menor grau de dependência.
- Confiança em suas habilidades motoras básicas e aquisição de novas.
- Vivenciar e desfrutar do ar livre.

Estratégias Metodológicas:
- Acompanhar e amparar tanto pais quanto o grupo de crianças.
- Observar condutas grupais e individuais.
- Oferecer espaços para a exploração de brinquedos, jogos e distintos elementos.
- Utilizar recursos para entreter a criança durante a espera.

Atividades Propostas:
Duração aproximada: 2 semanas
Boas-vindas e apresentação da personagem da sala "A galinha Paulina", seguindo as pegadas e os cacarejos de nossa amiga chegarão ao local onde a encontrarão.

Atividades de rotina: fazer uma roda e cantar canções para cumprimentarem-se.
- Separar lenços para brincarem. Possíveis ações exploratórias: sentados, parados, passeando pela sala.
- Chamar a Paulina e cantar uma canção.
- Contar uma história onde aparecerão alguns animais amigos da Paulina.
- Saborear biscoitinhos preparados pela Paulina
-Desenhar com giz de lousa umedecido em leite açucarado a parte da história que mais gostou e depois expor na sala.
- Brincar com bacias de diferentes tamanhos transformando-as em distintos elementos e utilizando-as para passear pela sala.
- Fazer aparecer com a ajuda de palavras mágicas um trem de lenços (formar um trem amarrando as pontas dos lenços).
- Sair para um passeio por toda a escola cumprimentando todas as pessoas que encontrarem.
- Cantar a canção "Cabeça, ombro, perna e pé" e ir sinalizando com um lenço as partes destacadas.
- Pendurar os lenços em um varal com a ajuda da mamãe.
- Distribuir baldes e pás para brincarem junto com Paulina no tanque de areia. Fazer o trajeto cantando a música "O trem maluco...".
- As mães ficarão na sala criando com os lenços os amigos de Paulina e depois irão buscá-los no parque com a surpresa.
- Retornar a sala para brincarem com lençóis e com os animais criados pelas mães.
- Em roda apresentarão os amigos de Paulina criados pelas mães, dizendo qual é seu nome, o que gosta de fazer, o que gosta de comer, etc.
- Com caixas e lençóis as mães transformarão estes elementos em uma casa para o animal criado (cada uma deverá decorar a gosto).
- Distribuir bacias e brochas para brincarem com água no parque.
- Brincar com os amigos de Paulina em um grande lençol: brincar com fantoches de dedo.
- Forrar caixas com jornal e pintar com guache espesso utilizando os dedos.
- Passear com os animais em seus veículos pela escola, parando nas demais salas e cumprimentando as outras crianças e professoras.
- Comemorar o aniversário da Paulina na hora do lanche.
- Brincar com espuma de barbear sobre papel grosso.
- Trazer um boneco de casa e brincar com ele na escola e ao final banhá-lo com água e esponjas no parque.


Planejamento para as semanas seguintes (possíveis atividades):

- Brincar e explorar as distintas partes do corpo.
- Brincar de esconde-esconde com lenços transparentes e opacos, lençóis, papelão, etc.
- A professora irá se esconder e aparecerá com as palavras mágicas aprendidas.
- Ouvir histórias, poesias e versos observando as ilustrações.
- Brincar com bolhas de sabão  no parque, seguindo e pegando-as.
- Brincarem todos juntos com massinha.
- Brincar com caixas de papelão: fazendo cavalinho, criando caminhos, construindo tuneis e casinhas, entrando dentro e convidando o amigo para uma visita.
- Brincar com jornal.
- Brincar com bambolês, guizos, blocos de espuma, no tanque de areia...
- Colaborar com a professora na hora de organizar a sala.
- Brincar com a professora de música.

* fonte: Educação Infantil - o Guia da Professora/ Março 2008 - Editora Ediba

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A SALA DOS LIVROS MORTOS


A sala dos livros mortos
Ignácio de Loyola Brandão

No seu primeiro dia como funcionária daquela biblioteca pública, Ana Lygia foi levada pela diretora para conhecer o prédio. Subiram e desceram escadas, o elevador há muito tinha sido desativado por falta de verba de manutenção, por sorte eram apenas três andares, mais o porão. Secretaria, diretoria e salas e salas repletas de livros em estantes de metal, uma pequena sala de convívio, uma saleta para os jornais. Existia até uma quantidade razoável de volumes, ainda que o acervo estivesse desatualizado em relação à atual literatura brasileira. 
Quanto à mundial, a atualização era sentida pelos best-sellers, por aqueles que tinham sido os mais vendidos nas revistas semanais. Finalmente, desceram ao porão, havia montes de caixas com doações de livros ainda em fase de estudos, o que valia e o que não valia a pena, porque os doadores em geral entregam à biblioteca o que não querem em casa e o que ninguém quer e não presta para nada. Duas saletas com material de limpeza e uma sala com porta de ferro, trancada.
- E aqui?
- Ninguém entra. É a sala dos mortos.
- Mortos?
- Sim, a sala dos livros retirados de circulação.
- Retiram? E qual o critério?
- Se em cinco anos ninguém retirou o livro, ele é descartado do mundo  dos livros vivos.
- E ficam aqui? Quanto tempo?
- Para sempre.
- Não podem ser doados a outras bibliotecas, ao público?Avisam: quem quiser livros venha buscar? Assim talvez continuem vivos!
- A lei não permite. É um bem público. Pertence ao patrimônio. É a situação mais complicada que existe, porque a burocracia impede essa doação, é preciso montar um processo jurídico e, como todo processo jurídico, se eterniza. Nem vale a pena, o melhor é esquecer.
- Posso ver a sala?
- Melhor não entrar. Aliás, tem um problema, a chave foi perdida, para mandar fazer outra monta-se um processo administrativo.
- Talvez tenha livros interessantes que eu queira ler.
- Não adianta, a lei diz que devemos inutilizar. Quando o livro vem para cá, tem uma determinada página arrancada, ou duas, uma do começo, outra do final.
Leitora desde a infância, Ana Lygia lembrou-se do Barba-Azul e do famoso cômodo no qual suas esposas não podiam entrar e quando entravam eram assassinadas. Sua curiosidade aumentou. Ela começou a trabalhar e meses mais tarde foi designada para um plantão de domingo, uma experiência nova. Aconteceu de ser dia chuvoso e ninguém foi à biblioteca. Ana Lygia lembrou-se da sala dos mortos, desceu, experimentou, trancada. Subiu, perguntou a uma auxiliar se sabia onde estava a chave, ela apontou para uma gaveta, disse que ali havia umas cem chaves, talvez fosse uma delas. Ana Lygia colocou-as em uma caixa e desceu. Começou a experimentar uma a uma.
Algumas ela descartou pelo tamanho, outras entravam, não giravam, ela não forçava, com medo de quebrar. Exercício de paciência. Também, ela não tinha nada a fazer. Finalmente, a chave 83 funcionou. Veio de dentro um cheiro abafado de mofo e umidade, ela abriu totalmente a porta, esperou. Procurou o interruptor e uma luz amarelada inundou o cômodo de fantasmas. 
Havia pilhas de livros amontoados até o teto. E, em volta, junto à parede, uma coleção de extintores de incêndio. Contou 35, cada um de um modelo, percebeu que alguns eram velhos, outros pré-históricos. Poderiam ser alinhados em um museu, ali estava a evolução dos extintores, os mais antigos enormes, desajeitados, para manobrar aquilo seriam necessárias duas pessoas.
Havia ainda relógios de ponto, alguns estapafúrdios, palavra que ela associou à idade do equipamento. Também fariam o encanto do velho Dimas de Melo Pimenta, um ícone da relojoaria nesta cidade. Ela experimentou mexer nas alavancas, umas travadas pela ferrugem, outras funcionaram com um ruído seco. Quantos teriam sido pontuais, quantos o relógio teria punido? Gostava de imaginar coisas assim, afinal, havia um quê de ficcionista dentro dela, daí sua paixão pelos livros e por ter escolhido a profissão. Ana Lygia percorreu aquele porão empoeirado contemplando escovas, vassouras, rodos, baldes furados, panos de chão podres, latas de cera, tubos de desinfetantes, detergentes, latas com pedacinhos de sabão, escovões. 
Nossa, há quantas décadas o escovão desapareceu da cena doméstica, quem ainda encera a casa? Tudo que devia ser descartado, porém era impossível, tratava-se de patrimônio.
Afinal, dedicou-se aos livros. Estendeu a mão, curiosa, puxou um. A Menina Morta, de Cornélio Penna. Puxa, esqueceram o Cornélio? Ninguém o leu por cinco anos? Foi folheando, livro grosso, talvez isso tenha assustado. Lendo. De repente percebeu a página arrancada. Apanhou outro livro, A Montanha Mágica, de Thomas Mann. E José de Alencar, Lúcio Cardoso, Ibiapaba Martins, Osman Lins, Mário Donato (puxa, fez tanto sucesso nos anos 50), José Geraldo Vieira,John dos Passos, Romain Gary, Malcolm Lowry, Oscar Wilde, Maria Alice Barroso. Todos mutilados. Apanhou um deles, escondeu debaixo da blusa. Levou para casa. Na biblioteca de um amigo encontrou um exemplar completo, digitou a página faltante, colou dentro do volume doente. A cada semana, leva um embora, recupera. Ela imagina que em alguns anos terá recuperado todos. Leva para bibliotecas comunitárias, existem várias. A simples idéia de ver um livro reciclado, ou queimado, a deixa doente. Mais fácil comprar outro? Sim. Mas e o prazer de salvar um livro? 

O Estado de S.Paulo, 4 jul. 2008 


PROJETO TEATRO NA ESCOLA E NA COMUNIDADE


O teatro faz parte do Projeto Letras de Luz de maneira bastante importante, pois é uma das três vertentes do projeto. As cidades que recebem as oficinas de leitura também recebem oficinas de teatro e são chamadas a montar um grupo teatral. 
Teatro é uma das formas mais antigas de arte, diversão e cultura. Popular em praticamente todos os países, ele é originário da Grécia e já encantava seus habitantes muitos séculos antes de Cristo. Também como gênero literário, pode ser lido e estudado prazerosamente. Como uma atividade artística, tem a capacidade de agregar diversos saberes e competências e pessoas de todas as idades. 
Fazer teatro é uma brincadeira das mais sérias e deliciosas. Podemos dizer que representamos mesmo quando não sabemos que o estamos fazendo. Quando contamos uma história, uma piada, até mesmo quando contamos uma histórica ou causo acontecido conosco, estamos, de certa forma, representando um pouco. 
O teatro alia texto, leitura, representação e estética. Literatura e arte aliadas de maneira inseparável. Além do texto e de todo trabalho literário que se faz, o teatro coloca os participantes em contato com outros trabalhos complementares e igualmente importantes para que o teatro aconteça de maneira completa – como o cenário, o figurino, a trilha sonora, os cartazes, a divulgação. Todas essas atividades são igualmente importantes para a atividade teatral e podem despertar outros interesses nos participantes, em especial para os que não gostem ou não se sintam capazes ou prontos para representar. Podemos afirmar que, numa montagem teatral, há trabalho para todos os gostos. 

Objetivos
• Despertar o gosto pelo teatro, discutir e estudar outro formato de texto, outro jeito de ler, outro gênero literário. 
• Auxiliar escolas e comunidade a participar de atividades teatrais tanto na realização e atuação como na formação de público para os espetáculos do projeto e outros que surgirem na cidade. 

Seqüência das atividades 
1. Montagem de um grupo para trabalhar. Professor, escolha um caminho para tal grupo: interesses coletivos, faixa etária, horários comuns para reuniões e ensaios etc. 
2. Escolha de um texto: lembre-se de que pode ser um texto escrito originalmente para os palcos ou pode-se também utilizar o texto de outro gênero, como conto de fadas, de suspense, de humor, crônica, romance, e adaptá-lo ao teatro. 
3. Realize várias leituras do texto escolhido: lembre-se de que um texto, para ser encenado, precisa estar “na ponta da língua”, não só como texto decorado, mas também como texto compreendido, estudado, que todos possam falar e comentar.
4. Discuta o conteúdo do texto com o grupo todo, mesmo com quem não está em cena. Afinal, o conteúdo se reflete no cenário, nas músicas e em tudo que faz parte da montagem. É muito importante que os alunos aprendam isso e levem para seus trabalhos futuros. 
5. Ensaie e pratique exaustivamente com o grupo a leitura em voz alta. Ler em voz alta é uma atividade das mais importantes no trabalho de teatro. 
6. Faça a adaptação do texto, se o texto não for teatral, isto é, se ele não foi escrito especialmente para o teatro. Esta é uma atividade para a qual o professor de Língua poderá dar valiosa contribuição. 
7. Acompanhe o grupo na escolha do diretor. O papel de diretor de uma produção teatral é muito importante. O responsável por essa atividade tem que estar atento ao trabalho do grupo e dividir suas angústias e realizações com todo o grupo. 
8. Lembre-se de que não existe trabalho apenas para os atores, mas para várias outras atividades – as alunos podem gostar de música, cenário, cartazes, produção de palco, divulgação etc. Essas atividades também precisam de estudo e dedicação e podem revelar muitos talentos. 
9. É chegado o momento da estréia! Depois do período de ensaios e estudos, o grupo entende que é chegada a hora de mostrar ao público o trabalho pronto. É hora da estréia! 
10. Apresente publicamente o trabalho. O teatro precisa ter público, isto é, é preciso que o trabalho seja socializado e avaliado pela platéia. Procure apresentar-se diversas vezes e com públicos variados para que o grupo possa exercitar sua forma de representar. 
11. Acompanhe junto com seus alunos as apresentações do grupo de teatro Letras de Luz. O trabalho com teatro na escola pode ser potencializado se o grupo estiver atento e participar ativamente das apresentações feitas pelo grupo de teatro Letras de Luz. Parcerias com esse grupo e trocas de experiências podem e devem ser feitas.




*fonte: http://www.fvc.org.br/pdf/letras-oficina-1.pdf


quinta-feira, 18 de julho de 2013

PROJETO CARTÃO-POSTAL


Objetivos 
• Aproximar todos os participantes do Projeto Letras de Luz espalhados por quatro estados brasileiros através de um objeto de comunicação. 
• Aproximar adultos e crianças, professores e alunos de um mecanismo de comunicação que tem uma história das mais interessantes e uma utilização e importância mundiais. 
• Trabalhar com texto e imagem e a valorização das paisagens locais como forma de se comunicar com pessoas desconhecidas. Essa atividade é indicada para a sala de aula ou para a comunidade. 

Conversando sobre cartões 
Quem já enviou ou recebeu um cartão-postal? Lembra-se da alegria ou da surpresa? Muito utilizado como uma lembrança de viagem e uma maneira de compartilhar paisagens com amigos e parentes, a história do cartão não começa assim. Antigamente, a troca de cartões era muito mais constante e não se restringia a viagens e paisagens. Os cartões que trocamos nos dias atuais, em comemorações de aniversário, Natal, formaturas e tantas outras ocasiões, eram também trocados, enviados e recebidos em forma de cartão-postal. Ele valia como um telefonema, um e-mail, uma mensagem. Portanto, não tinha a característica que lhe damos hoje, ou seja, a de ser quase que somente um objeto de turistas. Mesmo restrito a viagens, os cartões cumprem uma missão das mais belas: eles se comunicam com alguém que está longe através de uma imagem e de um pequeno texto que tenta dizer muitas coisas. Os cartões que serão trocados no projeto serão confeccionados pelas pessoas que o vão enviar, o que indica que teremos atividades de observação da paisagem, de desenho e de escrita.

Atividades: 
1. Professor, se você escolheu esse projeto, em sala de aula, reúna o grupo que irá confeccionar os cartões. Uma boa conversa sobre cartões é bem-vinda. Recolha cartões com amigos e parentes para mostrar aos alunos. Peça que também eles procurem cartões postais com os familiares para levar para a classe. Ensine como se escreve num cartão-postal. Pergunte aos estudantes se a cidade possui cartões-postais de suas paisagens. Eles são conhecidos? Tais pesquisas e conversas ajudam a trabalhar o tema, já que muitas crianças (e também adultos) podem nunca ter enviado ou recebido um cartão. O livro Quando o Carteiro Chegou ajudará muito nessa conversa. Monteiro Lobato enviava cartões em muitos momentos de sua vida e os textos que escrevia tratavam de variados assuntos, dos mais íntimos aos mais corriqueiros ou até ligados ao trabalho e a política. 
2. Visitar a cidade. A atividade foi idealizada pensando numa paisagem da cidade para figurar no cartão. Tal premissa nos parece indicada, pois as pessoas ligadas ao projeto estão espalhadas por quatro estados brasileiros e será muito  interessante que mantenham uma correspondência e saibam um pouco sobre as outras cidades. Também está em jogo um novo olhar sobre a cidade na qual se mora. Ao ter a tarefa de desenhar e escrever sobre sua cidade, o mensageiro do cartão terá que fazer escolhas. O que retratar? O que dizer sobre sua paisagem? 
Por isso, sugere-se um passeio prazeroso nos locais escolhidos pelo grupo de alunos ou professores. Professor, lembre-se de que o refinamento do olhar é uma peça-chave dessa atividade. Uma árvore, uma montanha, um antigo bar com seus balcões antigos de madeira, casinhas, janelas enfeitadas com cortinas e pessoas alinhadas na paisagem: tudo é um bom motivo! Mas a escolha é do autor do cartão, sem dúvida. O importante é saber valorizar o olhar e as descobertas que serão feitas nesse passeio pela cidade. 
3. Professor, depois do passeio pela cidade, converse com os alunos sobre o que viram e sentiram no passeio. Só depois da conversa é que os estudantes começam a fazer seus desenhos. Se o projeto está sendo desenvolvido com a comunidade, tente agrupar as mais variadas idades no grupo. Pessoas mais velhas da região podem contar histórias sobre os lugares, valorizando-os ainda mais. Depois da conversa, o grupo pode escolher o tema de seu cartão e fazer esboços. Também podem desenhar diretamente no cartão, caso se sintam 
seguros para isso. 
4. A escolha do material é importante. Cada “artista” sabe com qual tipo de lápis, caneta ou giz seu desenho ficará melhor. A supervisão e ajuda de um professor de artes também podem ser pedidas. Caso a atividade esteja sendo feita somente por pessoas da comunidade, lembre-se de convidar artistas da região, desenhistas, jovens que gostem muito de desenhar, grafiteiros, cartunistas, cartazistas. A presença de pessoas ligadas a atividades artísticas pode ajudar a valorizar o trabalho dessas pessoas da comunidade, que muitas vezes não são reconhecidas na cidade. Mas não só especialistas são convidados e bem-vindos: todos podem desenhar! 
5. Para que a atividade seja completa, é preciso que os cartões sigam via Correio. Existem várias alternativas para realizar a tarefa postal: carta social, envio por lote de cartões e não isoladamente. 
6. As formadoras fornecerão os endereços para troca de cartões. Além de conhecer as cidades, espera-se que muitas novas e duradouras amizades surjam em todo o Brasil. 




quarta-feira, 17 de julho de 2013

PROJETO FOTONOVELAS E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS


Objetivos
No trabalho com fotonovela, o objetivo principal é aproximar os alunos de um  gênero bastante divulgado de literatura (e de entretenimento) comum nas décadas  de 1950 a 70. Para as Histórias em Quadrinhos, podemos dizer que os alunos já  convivem com esse gênero cotidianamente e o que desejamos é que sejam 
produtores dessas histórias. Em ambos os casos, colocar os alunos na posição de  produtores de textos, não só de leitores, é uma atividade que exercita a estética,  pois aí entram o desenho e a representação teatral como aliadas desses dois gêneros. 

Conversando sobre os gêneros 
Quem já leu uma fotonovela? Muito comum nas décadas anteriores às  telenovelas, as histórias fotografadas vendiam muito e encantavam leitores no mundo todo. Assim como hoje na TV e cinema, as fotonovelas tinham seus ídolos, galãs, musas, amados e vilões. Trata-se de um gênero que “brinca” e dialoga com texto e imagem ao mesmo tempo, num casamento bem arranjado. 
As histórias em quadrinhos estão por toda parte e são uma mania mundial. 
Desde as mais simples até gibis confeccionados por artistas plásticos que valem quase uma fortuna. Muitos heróis, que foram criados para as histórias em quadrinhos, se transformaram em sucesso do cinema, como Batman, Homem Aranha, Super-Homem e os mais recentes Quarteto Fantástico e Os Incríveis. 
Ambos os gêneros trabalham com o diálogo entre texto e imagem. Diferem em relação ao formato. A imagem/ação é representada via fotografia ou via desenhos, mantendo a idéia de quadros para encadear a história. 
Professor, comece contando sua experiência com a leitura desses gêneros ou fale de sua “não-experiência”, o que é muito importante também. Ou seja, dizer aos alunos que aprenderão juntos a ler e a fazer fotonovelas e quadrinhos. Para essa atividade, os alunos precisarão desenhar e fotografar as cenas, portanto, material de desenho e material fotográfico são essenciais. Pode-se fotografar com qualquer máquina, o importante é lembrar que as fotos deverão ser reveladas ou impressas, caso a máquina seja modelo digital. 

Seqüência de atividades: 
1. Tanto a fotonovela como as histórias em quadrinhos possuem trajetórias e curiosidades incríveis sobre seu surgimento, sua divulgação pelo mundo, seus grandes autores etc. Uma boa pesquisa para começar o trabalho será bemvinda. Ela pode incluir livros, internet e entrevistas com familiares, outros professores, jornaleiros de bancas de revistas e jornais, além de jovens de ensino médio e até universitários. Importante lembrar que as HQs são lidas por um público muito diverso e que muitos podem contribuir para a coleta de dados.
2. Professor, é possível que muitos alunos não conheçam fotonovelas, dado a distância entre as gerações. Leve algumas para a sala de aula para que possam conhecer o formato. Se não tiver um exemplar para mostrar, procure em sebos (livrarias que vendem livros e revistas usados). Nesse gênero, não basta saber de sua existência. É preciso conhecer o formato, pois ele é determinante. Faça uma roda de leitura, um Mar de Histórias, com fotonovelas e histórias em quadrinhos. Monte uma roda bem animada, na qual os alunos possam observar detalhes das revistas, os diferentes ilustradores, as maneiras distintas como as imagens são dispostas nas páginas, a maneira como o texto é inserido. Escolha trechos para ler, cenas que julgar interessantes para analisar. Faça uma pesquisa sobre os heróis preferidos da classe. Lembre-se de que se está trabalhando com gêneros que possuem a imagem como aliada fundamental da escrita. A imagem é considerada texto por muitos especialistas, portanto, ela sugere outro ritmo de leitura, um novo jeito de ler e de olhar.
3. Depois de familiarizados com as revistas e suas histórias, o grupo de professores irá decidir se quer fazer HQs ou fotonovelas. Ou talvez os dois! Para a fotonovela, o primeiro passo é a escolha de um texto. Os alunos podem criar uma história ou adaptar um texto para fotonovela, que pode ser um conto, uma lenda, uma fábula ou uma crônica. Muitos gêneros podem ser adaptados. Professor: aproveite algum texto ou gênero que já esteja trabalhando em Língua Portuguesa. É preciso refletir/estudar com os alunos as características das narrativas de fotonovelas: texto não muito longo, ações sequenciadas (ainda que possam acontecer digressões), importância maior na expressão que na figura do narrador para que as imagens/fotos 
comuniquem sentimentos e atitudes. 
*Para as HQs, o caminho pode ser invertido, ou seja, pode-se começar pela criação de algumas imagens se o desejo for criar um personagem, um super herói, um tipo engraçado, um tipo caricato etc. Na criação de um personagem, várias habilidades/desafios se colocam para o aluno: quem é o personagem, o que ele faz, o que ele pensa, quais confusões e problemas ele enfrenta, quais problemáticas/dilemas do mundo ele discutirá etc. Depois de criado o personagem e suas características, é necessário criar o enredo e aliar texto e imagem. Porém, em HQs, também é possível adaptar textos de outros gêneros e até textos do cotidiano. Atualmente, é bastante comum termos todos os assuntos: ciências, política, economia, religião transformados em histórias em quadrinhos! Assim, o trabalho pode acontecer em parceria com outras áreas e disciplinas. Professor: a leitura do livro História em Quadrinhos na Escola, de Flávio Calazans, pode ser um valioso auxiliar neste projeto. 
4. Várias aulas devem ser destinadas a essas atividades, já que o trabalho de criação pode ser lento e necessitar de revisões, alterações, diálogos entre os grupos de alunos e os professores. Uma parceria com a área de artes é bem-vinda, em especial na escolha dos melhores materiais a serem trabalhados (giz de cera, caneta, lápis, colagem, caneta hidrocor). É preciso definir, com antecedência, o melhor material para o tipo de desenho que os alunos vão criar. Para a fotonovela, é preciso lembrar que os alunos precisarão, necessariamente,fotografar as cenas.
5. Também para a fotonovela, deve-se ensaiar as cenas antes de fotografar, pois elas necessitam comunicar o que se deseja dizer, mas precisam também caber num espaço determinado de página. É preciso aprofundar com os alunos a questão estética desse gênero, pois ele é determinante para o resultado final. Várias aprendizagens/habilidades devem ser colocadas em prática, como o manejo da máquina fotográfica (que atua como um diretor de cinema ao dirigir a cena), a dramaticidade dos alunos e a comunicação dessa dramatização através da foto e do texto. Para ambos os trabalhos, a disposição do texto em balões ou legendas e a fala do narrador são fundamentais. 
6. Professor, depois de prontos os trabalhos, faça uma exposição. Expor o que foi feito deixará todos muito felizes e orgulhosos. Uma exposição poderá cativar futuros leitores de HQs e fotonovelas!