quinta-feira, 11 de junho de 2015

NOME PRÓPRIO NA ALFABETIZAÇÃO

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O portal Além das Letras1 ministrou o curso a distância O papel do nome próprio na alfa betização inicial. O produto compartilhado pelo grupo de alunos foi a organização de uma pequena coletânea2 composta de boas pro pos tas para utilização em sala relacionadas ao nome próprio. Agora, os alunos do curso 1 oferecem esse material, amplamente discutido pelos participantes nos fóruns e nos demais espaços de estudos. Ninguém melhor do que uma assídua participante para apresentar os resultados: O percurso que realizamos até aqui nos trouxe reflexões muito interessantes e até mesmo surpreendentes!


Apesar dos cursos já trilhados na área de alfabetização, o presente trouxe um olhar muito pormenorizado de ações que já foram incorporadas à prática. Quem de nós já havia pensado na hipótese de refletir o porquê de cada ação, se para tantos de nós é ponto pacífico que essas atividades colaboram para a apreensão do conhecimento do aluno? Contudo, fazendo uma análise de cada uma dessas atividades, nosso papel como alfabetizador toma uma proporção diferente, pois cada uma dessas propostas passa a ter um significado específico, capaz de resolver as dificuldades que o estudante possa ter.

Três propostas foram apresentadas e pudemos refletir quanto à funcionalidade de cada uma no que tange à aprendizagem da leitura e da escrita. Cabe, então, ao profissional da área, compreender que as atividades podem ser apresentadas de maneiras diversas e, assim, atingir também objetivos diferentes. O que se adquire, ao final, é autonomia tanto para refletir, quanto para buscar caminhos para alcançar a aprendizagem da leitura e da escrita. (Érika Miskolci)
Nem tudo é o que parece
A sensação que você, leitor, terá ao ler as próximas páginas é de familiaridade. Você vai reencontrar práticas sobre as quais já ouviu falar e possivelmente já faça. Portanto, essa coletânea não tem como propósito apresentar nenhuma grande novidade. Queremos apenas refletir, avaliar e orientar essas propostas divulgadas há tempos, encontradas nas salas de aulas das mais diferentes regiões do país. Diversas atividades, embora amplamente difundidas, comumente são utilizadas nas escolas aleatoriamente, repetidas sem reflexão sobre seus reais propósitos e desafios para as aprendizagens nas séries iniciais. Ao se analisar os detalhes da proposta, do tipo de consigna que se faz às crianças, das intervenções e dos materiais oferecidos, nota-se a falta de intencionalidade educativa.

Clidineia Ferreira também concorda com a necessidade de um planejamento mais reflexivo: Preparamos atividades que levam nossos alunos à reflexão, a mudar seus conceitos, desestabilizando concepções e construindo novas aprendizagens. (…) Não precisamos facilitar para que eles aprendam a ler e a escrever convencionalmente e sim planejar estratégias que os levem a pensar em situações reais de leitura e de escrita significativas dentro de um contexto socialmente aceito no mundo letrado. Planejar estratégias que levem os alunos à reflexão exige do professor saber exatamente não só o que ele tem por objetivo de trabalho, mas também decidir sobre as diferentes formas de proposição de uma atividade, já que consignas diferentes podem produzir aprendizagens diversas. Como lembra Lorena Trescastro, “as atividades ensinam coisas diferentes: a grafar letras, a reconhecer letras e a pensar sobre o sistema de escrita – variedade e repetição de letras nos nomes, nomes com tamanhos diferentes, com inícios e términos com a mesma letra, ordenamento das letras na composição das palavras. Tudo isso é importante, mas os professores precisam entender que as atividades do modo como são propostas estão ensinando coisas diferentes. Podem propor uma reflexão sobre a escrita propriamente ou, então, sobre o uso dessa escrita socialmente. Ou, ainda, focar aspectos da leitura ou da escrita”.
Amanda Lopes, 4 anos
Amanda Lopes, 4 anos
A tarefa de realizar um planejamento de trabalho de alfabetização e letramento com as crianças, respeitando seus processos de construção do conhecimento, os conteúdos e os interesses de cada turma não será possível sem que priorizemos uma organização sistemática de nossas propostas pedagógicas. Porém, um ponto importante na ação docente alfabetizadora, sem o qual essa ação não se efetiva, é o registro: ação pensante, onde prática, teoria e consciência são gestadas. (Renata Maria Oliveira)
Por que nome próprio?
Sobre essa questão, Raquel Relvas comenta:

Sabemos que a escrita do nome próprio tem função social definida em nossa cultura: identificar as pessoas, identificar aquilo que a ela pertence, referir-se e localizar-se… ou seja, simplesmente “se fazer existir”. Além de a escrita do nome próprio na escola ser usada para tais identificações, é utilizado também para proporcionar às crianças um suporte que lhes dê condições favoráveis para apoiá-las em seu processo de alfabetização. Por fornecer a ela um modelo estável de escrita, esse trabalho proporciona avanços significativos na aprendizagem da leitura e da es crita, porque o aprendiz encontra oportunidade para refletir sobre quais e quantas letras usar e em que ordem elas se apresentam. Assim, podem adquirir, aos poucos, os conhecimentos essenciais que impulsionarão seu processo de alfabetização.
Para Érika Miskolci:
A grande vantagem de se trabalhar com o nome próprio vem do fato que o nome encerra em si a unicidade no que tange ao assunto e a diversidade no que diz respeito a cada um ter um nome específico e, não obstante, poder ser trabalhado na classe como um todo.

Para Lorena Trescastro:
O uso de nomes para nomear, identificar e organizar o grupo de crianças em sala de aula é uma atividade que insere o uso do nome na rotina, destacando a funcionalidade da escrita. Essa atividade coloca em evidência o contexto de uso da escrita: é necessária, real e socialmente aceita como prática recorrente em nossa cultura (…). O nome, por si só, ao identificar a pessoa e servir de chamamento em várias situações discursivas cotidianas, tem contexto definido, claro e permanente. Em sala de aula, o que se faz é tirar desse contexto situações para fazer avançar a aprendizagem do sistema de escrita. Ao serem trabalhados na sala de aula os nomes, que pertencem a contextos de uso frequente pela criança, viram objetos de aprendizagem.

Para Maria do Carmo Simões da Silva:
Segundo Rosa Antunes de Barros, “o conhecimento do nome representa uma oportunidade privilegiada de reflexão por se tratar de um modelo estável, por ter valor compartilhado por emissor e receptor e clareza na função na função social da nossa cultura.”

Três ideias validadas
Lorena Trescastro afirma que “existem inúmeras atividades que podem ser desenvolvidas a partir do nome próprio das crianças. A partir disso, o curso proporcionou que selecionássemos, compartilhássemos e analisássemos um repertório de propostas bastante valioso, principalmente a partir de três critérios:

  1. Situações em que o foco da atividade seja ler ou escrever.
  2. Situações em que a criança possa pensar sobre os usos e as funções da escrita e como se escreve.
  3. Situações em que ler e escrever o nome sejam práticas necessárias e socialmente reconhecidas.
Não são simplesmente atividades propostas, mas são oportunidades de gerar conflitos que impulsionam a aprendizagem de nossas crianças e, por isso, merecem toda atenção antes, durante e após sua realização. Tais sugestões privilegiam condições para que os pequenos reflitam sobre o sistema de escrita, apoiados em um referencial importante e significativo para eles, e que lhes dê segurança para escrever e ler seu próprio nome.”.
A seguir, apresentamos três ideias para se trabalhar com a lista de nomes da sala e seus diferentes usos. O jogo de bingo é um dos mais comuns nas salas de Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Vários professores o utilizam porque acreditam que seja um modo mais lúdico de ensinar. Pensam que as crianças aprendem brincando. De fato, elas brincam, mas não é por isso que aprendem e, sim, pela quantidade de informações às quais elas têm acesso e pelas oportunidades de pensar que este tipo de jogo permite. Os pequenos adoram desafios e, por isso, os jogos são importantes durante todo o processo de ensino e aprendizagem. Com o jogo de bingo não é diferente. Ele propicia às crianças a oportunidade de conhecer mais as letras, utilizar as estratégias de leitura (seleção, antecipação, inferência e verificação), associar as letras iniciais e finais com os nomes de sua cartela etc. Além disso, desenvolve a atenção (para não perder nenhuma letra dita pelo professor).
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O professor é bastante criativo e busca atividades ou as inventa para dinamizar o processo de aprendizagem. Por trabalhar com crianças pequenas, temos de considerar a faixa etária, de modo que a aula não se torne cansativa e pouco envolvente. Espera-se que as atividades de leitura e escrita sejam sistematicamente organizadas na escola. (Maria do Carmo Simões da Silva)
Portanto, para validarmos a qualidade do jogo como atividade de aprendizagem, precisamos perguntar: O que se aprende em cada uma das situações? O que é mais desafiador? Em nosso curso, estudamos três situações de jogo de bingo facilmente encontradas e fizemos uma análise didática. No jogo de sorteio de letras do nome, o professor sorteia as letras, as lê e as mostra para as crianças que, então, devem procurar a letra igual em sua cartela, cuja base é seu próprio nome. Ganhará o jogo aquele que cobrir todo o nome primeiro. De acordo com outra regra, a criança pode ter uma cartela com mais de um nome em uma pequena lista, mas a unidade a ser sorteada, ainda assim, será a letra.
Lorena Trescastro esclarece que, nos dois casos, o foco está nas letras. De fato, ambos podem contribuir para que a criança amplie seu repertório de letras, controle a quantidade e reflita sobre a disposição delas nos nomes, mas serve apenas para isso. Quem já memorizou a ordem de seu nome, por exemplo, pouco tem a ganhar com essa atividade. Se a professora mostrar a letra, restará apenas procurar o igual. Como diz Erotides Santos Vitório, “quando ela está apenas cobrindo, só está aprendendo a contornar as letras. Não precisa colocar em jogo nada do que já sabe, apenas brinca.” Sabemos, no entanto, que conhecer os nomes das letras não é pré-condição, muito menos suficiente para saber ler. Há jogos mais desafiadores que não se centram na letra como unidade da escrita, mas sim na lista de nomes.
No segundo caso de jogo de bingo, as crianças possuem cartelas com alguns nomes de sua sala. O educador procura compor a lista de modo favorecer a reflexão sobre algumas regularidades da escrita. Veja o exemplo:
M A R C E L O
S O R A I A
N A T A L I A
L O R A I N E

O professor, então, sorteia um nome a partir da lista da sala e a criança precisa verificar se a possui em sua cartela. Ela lê, mas não mostra a tarjeta à turma. Primeiro ele pergunta quem tem aquele nome e espera um instante até que todos verifiquem, leiam, discutam sobre as divergências e decidam como se escreve o nome. Depois mostra a tarjeta para a conferência do grupo e cola-a no quadro ao lado para que fique disponível para consulta. Quem acertar os quatro nomes primeiro, ganha o jogo.
Raquel Relvas avalia:
Essa proposta é mais desafiadora porque além de exigir mais da criança, permite que ela faça muitas reflexões sobre o que está lendo a fim de decidir qual o nome que deverá marcar.

Clidinéia Ferreira esclarece:
Nesse caso, a criança utiliza todas as estratégias para alcançar o objetivo proposto. Ela terá de refletir sobre o sistema de escrita, precisa comparar com o nome de outros colegas para checar suas inferências, utilizar seus conhecimentos prévios sobre quais letras deverá utilizar para escrever aquele determinado nome e, por fim, selecionar o correto para marcar.

Tatiane Rodrigues concorda:
Nessa situação, há uma necessidade real de leitura. Isso faz a criança utilizar hipóteses de leitura, entrar em conflito com o que ela já sabe e o novo, enfim, contribui significativamente para a aprendizagem.

Erotides Santos Vitório diz:
É fato que ninguém aprende as letras do nome a partir do nada. As situações de aprendizagem precisam ser contextualizadas, a criança precisa fazer relações: comparar, compreender, associar e pensar para compreender como se escreve seu nome e o dos colegas. Isso significa, portanto, aprender. Por isso, essa segunda proposta de bingo traz para as crianças vários questionamentos, fazendo com que elas coloquem em jogo muito mais do que apenas seu conhecimento sobre as letras e seu som. As crianças têm de diferenciar os nomes parecidos, reconhecendo as letras finais ou as iniciais, por exemplo. (…) Dependendo do questionamento feito pelo professor, isso pode promover a aprendizagem da leitura de vários nomes ao mesmo tempo.

É também muito interessante pelo fato de oportunizar ao aluno contato com nomes muito parecidos, com letras iniciais ou finais iguais, onde ele terá de colocar em jogo outros conhecimentos anteriores para poder entender as diferenças, reconhecer o nome e comparar sua grafia e leitura.
M A R C E L O
M Á R C I A
A R I A N E
M A R I A N E

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2. Qual é seu telefone?
Raquel Relvas sugeriu um projeto para a confecção de uma agenda telefônica. Seu uso é especialmente interessante porque as crianças sabem o que está escrito nela e, portanto, o exercício é encontrar o nome que desejam em uma lista. Isso vai permitir a elas reconhecer as regularidades e pensar sobre isso, condições imprescindíveis para compreender como funciona o sistema de escrita, conhecimento que, como já sabemos, é de natureza conceitual. O próprio uso da agenda já cria todos os desafios necessários para a reflexão sobre o sistema, os usos e as funções de uma agenda de telefones:

Quando a criança precisa localizar e identificar um determinado nome, consultando a agenda para poder realizar o telefonema, faz uma atividade de leitura. Quando precisa saber em que página da agenda deverá escrever determinado nome, como ele se escreve, quais e quantas letras esse nome possui e em que ordem elas são escritas, ela reflete sobre a escrita. Os pequenos relacionam a letra inicial com o nome de outros amigos. Se quiserem ligar para um colega, saberão em que letra deverá estar e, se tiver dois nomes escritos iniciados com a mesma letra, isso já gera um enorme conflito. Eles precisarão se arriscar na leitura e ter certeza de qual nome está escrito ali, para não correr o risco de ligar para o colega errado! Segundo o grupo, o projeto seguiria as seguintes etapas:
1ª. Antes da confecção da agenda telefônica, a professora pode levar para a sala diferentes tipos de agendas e discutir sobre sua utilização, organização, manuseio etc. Raquel Relvas já viveu essa experiência em sua cidade e comenta:
Algumas crianças sugeriram comprar uma agendinha telefônica, pois em nossa cidade há algumas lojas de produtos a R$1,00 e não ficaria custoso para ninguém. Pensando assim, todos toparam e resolvemos adquirir as agendas. Chegaram agendas de todos os tipos e tamanhos. Eu gostei muito, os pequenos descobriram que apesar de diferentes, todas elas possuíam características em comum atendendo do mesmo modo à função a que se destinavam.
2ª. As crianças também podem manusear algumas listas e procurar alguns nomes, aproveitando boas situações de leitura.
3ª. Em seguida, podem começar a confeccionar as agendas telefônicas, encaixando os nomes dos colegas nas letras correspondentes e anotando os números de telefones de cada um.
Para Clidinéia Ferreira, essa etapa poderia ser planejada assim:
Iniciaria com uma pesquisa onde cada aluno pesquisaria com os pais o número correto do próprio telefone e o traria para a sala. Depois, as crianças explorariam esses números levando os alunos a refletir sobre sua ordenação. Quanto à escrita, depois de socializar a pesquisa, faríamos uma listagem geral com os nomes e números de telefone dos alunos. Entregaríamos uma cópia da lista para que eles elaborassem as agendas em ordem alfabética, em duplas, discutindo a posição de cada nome na agenda. Em uma outra aula, confrontaríamos essa lista completando a agenda, verificando onde surgiu mais dúvida, ou verificando se todos conseguiram chegar à organização esperada.

4ª. Depois, pode-se solicitar aos alunos que liguem pelo menos para três amigos, em prazo combinado, para ver se as anotações estão corretas.
5ª. Para finalizar, podem produzir um pequeno texto para os demais colegas sobre a experiência que tiveram: como ocorreu, para quem ligaram e qual foi o resultado. Isso pode ser fei to coletivamente se a professora for escriba.
Lorena Trescastro amplia a proposta:
Incluir no trabalho uma reflexão que favoreça a compreensão da funcionalidade de letras (nomes) e números (código de acesso telefônico), destacando o uso de números em diferentes contextos.

Nenhum a menos
Algumas professoras, preocupadas com a inserção de todos os alunos no projeto, questionaram o fato de que tal proposta talvez não fosse adequada para os provenientes de famílias de baixa renda. Muitos não possuem telefone em casa, passam a maior parte do dia fora e, por isso, talvez não o utilizam com a mesma frequência de determinadas famílias. Sem considerar a contenção dos pulsos telefônicos, que oneram o orçamento dos pais. Elas temem que esse problema possa se transformar, em muitos casos, em impeditivo para a realização de um projeto cujo propósito compartilhado seja construir uma agenda própria.

O exercício crítico e a discussão didática sobre os benefícios do desenvolvimento desse projeto para a criança que se alfabetiza levou o grupo a concluir que as aprendizagens envolvidas na confecção e uso da agenda são necessárias, desejáveis e adequadas. Como lembra Raquel Relvas: A agenda tem uma função social e, por isso, ensinar a usá-la é muito coerente com a prática de alfabetização e valida nossos conhecimentos teóricos e práticos.
Tatiane Rodrigues avalia:
A necessidade do projeto agenda reside no fato de possibilitar que a criança reflita sobre como se escreve. Essa atividade dispõe de muitos requisitos para isso e todos desejam que uma criança aprenda a ler e escrever de maneira necessária e real, utilizando materiais adequados, como uma agenda.

Erotides Santos Vitório e Raquel Relvas concluem:
A construção de uma agenda de telefones é adequada, pois não podemos nos negar a fazer um trabalho como esse, que junta práticas de leitura e escrita, o real e o necessário em uma só atividade. Além disso, a agenda não é só para usar diariamente, é, principalmente, para usar nas emergências, para saber nomes e endereços de amigos e parentes. É também fonte de consulta do próprio número de telefone e endereço que pode ser usado para avisar a família quando houver uma emergência.

Em casa, por exemplo, utilizamos o telefone só em casos de necessidade. Porém, às vezes, precisamos ligar para um colega, justamente de quem não temos o número do telefone, ou o anotamos em um pedacinho de papel perdido em algum canto da bolsa. Nessa agenda, as crianças podem escrever e ler o nome do amigo que estão procurando, podem até procurar o seu próprio, caso não o saibam de cor, será um local para consultas, quando necessário, e até um exemplo para que usem em casa esse modelo de registro de endereços e telefones.
Ainda assim, há casos que necessitam de ajustes. Os alunos da professora Renata Maria Oliveira, por exemplo, em sua grande maioria, não possuem telefone residencial, nem aparelho celular. Portanto, a construção de uma agenda telefônica seria um projeto inviável porque não teria utilidade prática. Nesse caso, ela optou por construir outro tipo de agenda, com os endereços dos pequenos. Diz ela:
Ficou um pouco mais complicado porque passou a envolver o nome da rua e o número de suas residências, mas tenho certeza que atendeu melhor às necessidades das crianças. Elas estão muito empolgados e os pais têm participado. Assim, em vez de telefonar, as crianças poderiam combinar visitas aos colegas. Dá até para iniciar um trabalho referente ao bairro. Nessa discussão, concluímos que o importante é oferecer tudo às crianças, independente de classe social, para que elas possam aprender a ler e a escrever.  Ninguém fora nem da agenda, nem de uma sala de aula interessante, desafiadora e produtiva.
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3. Usos da lista de nomes
Além do jogo de bingo e do projeto agenda, há inúmeras possibilidades de trabalho com a lista de nomes da sala. O que vem a seguir não é um projeto, não envolve toda a ludicidade do jogo, mas certamente é interessante e desafiador. São as inúmeras ocasiões em que podemos recorrer à lista de nomes da sala para organizar o cotidiano em um contexto em que ler e escrever os nomes seja uma atividade real e necessária.

Um dos recursos mais utilizados pelos professores é o cartaz de pregas. Trata-se de um suporte, normalmente feito de cartolina ou papel kraft, onde se encaixam filipetas com os nomes de cada integrante da turma. São produzidas a partir de determinadas orientações a fim de favorecer a atividade de leitura:
1ª. Usa-se letra maiúscula.
2ª. Todos os nomes são escritos com a mesma cor, sem diferenciar os de meninas e os de meninos.
3ª. As filipetas têm tamanhos variados, a depender do tamanho do nome da criança, mas o tamanho da letra não varia, é sempre o mesmo.
4ª. Não há nenhum outro sinal que facilite a leitura, como desenhos, cores diferentes nas letras iniciais, fotos ou outras marcas que sirvam como um segundo símbolo.
Afinal, o que esse material tem de tão especial? Nada. É uma lista muito simples. Diferente do que muitos pensam, não basta colocá-la na sala de aula. Ela não é objeto de decoração. Muitos entendem que basta colocar a criança em contato com esse material e isso já seria suficiente, pois ela precisa olhar para os nomes. Isso não é verdade. A aprendizagem da escrita não depende de atividades perceptivas. Isso significa que, ainda que ela se depare com a lista de nomes todos os dias, isso não é suficiente para que, de fato, pense sobre o que está escrito.
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Lembra Raquel Relvas:
O cartaz de pregas é um recurso para a realização de atividades. Para que o cartaz de pregas seja um valioso instrumento alfabetizador, é necessário que o professor tenha realizado um planejamento com relação ao seu uso na sala de aula.

Renata Maria Oliveira diz:
O fato de possuir um cartaz de pregas em minha sala de aula não prova que as atividades realizadas sejam reflexivas para as crianças.

Clidinéia Ferreira concorda:
O cartaz de pregas pode ser apenas um recurso se ele for utilizado apenas como uma lista fixa. A cada vez que é utilizado, seguindo um propósito como é a chamada diária, serve para que a criança perceba que alguns nomes se iniciam com as mesmas letras, mas não terminam igual. Há nomes com quantidade de letras parecidas e diferentes. Som igual e escrita igual. A cada dia a criança pode refletir sobre algum nome de acordo com a proposta.

Raquel Relvas lembra:
A elaboração de boas propostas de atividades com a utilização do cartaz de pregas permite o desenvolvimento de um bom trabalho. Montar a lista de nomes da turma no cartaz e sugerir diferentes classificações e leituras (meninas e meninos, identificação da plaquinha de nomes dos ausentes, leitura de nomes e ordenação, fazer a chamada) faz desse recurso um bom instrumento de trabalho.

Erotides Santos Vitório, ao analisar uma das atividades do vídeo sobre nomes próprios do Profa3, contribui significativamente para a ampliação da discussão. Ela comenta: No vídeo O Nome próprio e os próprios nomes, a professora Regina pede que as crianças de um determinado grupo ajudem a separar os nomes das crianças das duas salas de pré-escola, que estão misturados. A proposta é boa, pois põe em cheque todo o conhecimento que elas possuem sobre nomes, faz com que usem todo o conhecimento que possuem.
Em outra situação, a docente propôs que os pequenos fizessem uma lista separando as fichas com os nomes de duas salas. Os nomes eram conhecidos e, com isso, ela propôs uma reflexão sobre as características do sistema de escrita. Enquanto algumas crianças separavam os nomes, as outras, que já faziam uso de hipóteses mais adiantadas, escreviam a lista. Ao final, elas verificam se não esqueceram nenhum nome, o que faz com que as hipóteses pré-silábicas adquiram novos conhecimentos e percebam que os nomes sempre se escrevem da mesma forma.
Com essa atividade, as crianças podem aprender a diferenciar os nomes pelas letras iniciais; a reconhecer que nomes parecidos têm apenas algumas letras diferentes; que apenas a primeira e a última letra não garantem que o nome seja o que ela está procurando; que o nome sempre se escreve da mesma forma; que alguns nomes se escrevem com poucas letras e outros com muitas letras etc.
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Para terminar…
Chegamos ao fim de nossa coletânea. Esperamos que você, caro leitor, tenha aproveitado nossas ideias e que nos ajude a manter ativa essa comunidade de professores alfabetizadores. Para tanto, convidamos você a revisar suas práticas: verificar todas as que deseja manter, as que pretende melhorar e, por fim, o que se mostrou novo e que será incorporado em seu dia a dia de docente. Acesse nosso portal – www.alemdasletras.org.br – e nos envie comentários sobre o que você achou deste material e como o utilizou em sua escola. Indique também o que pode ser feito. Suas sugestões podem ser importantes para outras produções coletivas do portal.

(Clidinéia Ferreira, Érica Miskolci, Erotides Santos Vitório, Lorena Trescastro, Maria do Carmo Simões da Silva, Raquel Relvas, Renata Maria Oliveira, Tatiane Rodrigues, alunas do curso a distância O papel do nome próprio na alfabetização inicial4. A edição é de Silvana Augusto, formadora do Instituto Avisa Lá e coordenadora do curso)
1O portal Além das Letras reúne conteúdos do Programa Além da Letras que é uma iniciativa do Instituto Avisa Lá, do Instituto Razão Social e do Grupo Gerdau, com o apoio da Avina, UNICEF, Undime e Ashoka. É composto de uma premiação e de uma rede de formadores, que conta também com a tecnologia da IBM, por meio da iniciativa Reinventado a Educação. Para mais informações acesse: www.alemdasletras.org.br.
2Todos os nomes citados na coletânea são de alunos do curso que participaram até a etapa final, tendo realizado as atividades propostas e, desse modo, obtido o certificado de conclusão do curso. São, portanto, co-autores da publicação
3Programa de Formação de Professores Alfabetizadores realizado pela Secretaria de Educação Básica (SEB) do Ministério da Educação (MEC), Brasília, 2001.
4Participaram como formadoras do Instituto Avisa Lá: Ana Carolina Carvalho, Debora Rana e Denise Nalini.

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