Tal como acontece na escrita pré-silábica, inicialmente as crianças usam de forma não -convencional o repertório de números para representar o sistema de numeração decimal.
Pesquisas recentes, feitas para descobrir como as crianças pensam sobre a notação numérica, mostram as possibilidades exploradas por elas para representar uma quantidade determinada entre 1 e 9 elementos.
* Idiossincrásica
Nesta categoria, as crianças fazem marcas onde não é possível perceber a intenção de relacionar a quantidade que se deseja representar. São como garatujas.
* Pictográfica
As crianças fazem desenhos parecidos com os objetos que estão representados e que têm relação com a quantidade que desejam registrar.
* Cônica
Nesta categoria, as crianças fazem marcas que não se parecem com o objeto que desejam representar, mas a relação com a quantidade a ser registrada é verdadeira, isto é, representa claramente uma correspondência termo a termo.
* Simbólica
As crianças utilizam símbolos convencionais para representar a quantidade que desejam. Nesta categoria, as crianças podem usar algarismos ou escrever a palavra correspondente.
Quando as crianças começam a usar algarismos convencionalmente, é possível que escrevam algarismos diferentes para representar cada objeto. Assim, colocam a mesma quantidade de algarismos que os objetos a serem registrados.
No decorrer desse processo de contato com os números, intensificado pelo trabalho escolar, as crianças começam a perceber que número com dois ou mais dígitos são maiores do que os com um dígito e, por isso, a primeira hipótese que elaboram é a de que a quantidade de algarismos está relacionada à magnitude do número.
É importante ressaltar que este critério de comparação costuma ser utilizado pelas crianças mesmo quando elas ainda não conhecem a denominação oral dos números. Por vezes pode ocorrer de uma criança não utilizar esse critério de comparação, quando, por exemplo, ainda não compreende como o número 101, com algarismos tão baixos, pode ser maior que 99, com algarismos tão altos.
Posteriormente, quando se deparam com números com a mesma quantidade de algarismos (12 e 21, por exemplo) e são convidadas a descobrir qual é o número maior, as crianças começam a compreender a importância do valor posicional no nosso Sistema de Numeraçaõ Decimal ("o primeiro é quem manda"). Apesar de as crianças não pensarem em unidades, dezenas, etc. , como a escola tradicional apresenta, ainda assim, constroem hipóteses a esse respeito; sabem, por exemplo, que o algarismo 2 de 20 quer dizer que ele representa 20 e não 2.
Como a apropriação da escrita dos números não segue a série numérica, as crianças têm mais facilidade para perceber primeiramente os "nós" (10, 20, 30, 100, 200, 300, etc.), devido às regularidades que estes apresentam.
Em seguida, utilizando-se da percepção dos "nós" e da hipótese de que a escrita dos números tem correspondência direta com a numeração falada, produzem suas escritas, que tanto podem ser aditivas (cento e vinte quatro - 100204 = 124) como multiplicativas (quatro mil - 41000 = 4000).
O conflito cognitivo que favorece que elas cheguem à notação convencional dos números é gerado pela insatisfação das crianças em relação às próprias escritas ( se 200 é maior que 124 (100204) como pode ter menos números?), ou seja, as insatisfações advém do confronto entre as duas hipóteses por elas mesmas elaboradas anteriormente: a escrita dos números corresponde à numeração falada versus a quantidade de algarismos que informa sobre o valor dos números.
Nesse sentido, o trabalho com o quadro numérico é importante desde o início, já que pode possibilitar que as crianças tomem consciência das características e das regularidades de cada número. Além do mais, é comparando os números, interpretando-os, operando-os, produzindo-os que elas perceberão as regularidades do nosso Sistema de Numeração Decimal, bem como as leis que o regem.
*fonte: Novos Caminhos (1ª série) , Ed. DCL
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