Modos de olhar o desenho na Educação Infantil
Sheila Christina Ortega e Cinthia S. Manzano
O desenho é uma das linguagens mais associadas
às atividades infantis e tradicionalmente está presente na educação infantil.
Muitos são os estudos sobre o desenho da criança, com diferentes abordagens:
há, por exemplo, uma tendência pedagógica que relaciona a produção infantil à expressão
dos sentimentos, das emoções e dramas internos das crianças.
Os estudos que embasam esse modo
de olhar o desenho têm sido úteis à análise psicológica, quando feita por
especialistas clínicos. Não é esse o caso da escola. Como, então, podemos olhar
o desenho da criança na educação infantil?
Podemos considerar o ato de
desenhar como a marca de uma trajetória. O desenho pode ser o registro de um
movimento que aconteceu num pedaço de papel, um risco no muro, o caminho
percorrido por um veículo ou o percurso que o nosso corpo desenvolve no espaço
enquanto nos movimentamos. Pode ser uma brincadeira visual repleta de
sentidos.
É interessante pensar que por
meio do desenho imprimimos nossa marca e delineamos nossa individualidade.
Desse ponto de vista, o desenho pode ser visto como marcas, registros,
vestígios. Mas não só isso. Desenhar é também uma forma de se aproximar das
linguagens artísticas. Produzir arte implica em olhar para o mundo de maneira
curiosa, fazer perguntas, procurar formas de entender os acontecimentos e
estabelecer relações. Na educação infantil, as crianças não produzem arte o
tempo todo, mas as experiências que elas tem com a linguagem do desenho as envolvem
em um intenso processo de imaginação e criação. Esse processo está ligado ao
desenvolvimento da sensibilidade estética, do fazer artístico e da construção
de narrativas.
Toda
criança desenha
Tendo um instrumento que deixe
uma marca: a varinha na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o
carvão nos muros e calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança
brincando vai deixando sua marca, criando jogos, contando histórias.
Desenhando cria em torno de si um
espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções,
mas sempre um espaço de criação lúdico.
A criança desenha para brincar
[...].[...] Entendendo por desenho o traço no papel ou em qualquer superfície,
mas também a maneira como a criança concebe seu espaço de jogo com os materiais
de que dispõe.
[...] O que é preciso considerar
diante de uma criança que desenha, é aquilo que ela pretende fazer: contar-nos
uma história e nada menor do que uma história. Mas devemos também reconhecer,
nessa intenção, os múltiplos caminhos de que ela se serve para exprimir aos
outros a marcha dos seus desejos, de seus conflitos e receios. Porque o desenho
é para a criança uma linguagem como o gesto ou a fala.A criança desenha para
falar e poder registrar sua fala.
Para escrever.(Ana Angélica
Albano Moreira – O espaço do desenho: a educação do educador. Ed. Loyola, 1995.
Cap. 1 “O desenho da criança”.)
A atividade de desenhar também
pode ser vista como uma forma de criar limites, sejam eles reais ou
imaginários. Atividade que permite construir novas estruturas no espaço,
inventá-los. Cada criança possui diferenças individuais ao organizar seu espaço
de brincadeira e construir seus desenhos. A criança desenha para brincar e, ao
fazer isso cria ao seu redor um espaço de jogo. Por isso, podemos dizer que é
desenho até mesmo o modo como a criança organiza seus brinquedos, por onde andam
seus carrinhos e como organiza os gravetos e folhas ao brincar no parque.
Quando proporcionamos bons espaços e boas oportunidades para a criança brincar
enquanto desenha, a criação e a expressão acontecem globalmente: o corpo
participa da criação. E é também nesse sentido que se pode entender o desenho
como movimentação e atitude infantis uma vez que o gesto, ao tornar-se
exercício para a individualidade, apreende desenho também como atitude.
Se dermos às crianças a mesma
liberdade no processo artístico que lhes damos em suas brincadeiras, as
crianças chegarão a excelência no aprimoramento do processo criativo. A
Em todos esses casos, é
importante ao planejamento da educação infantil garantir que a criança possa
escolher como se expressar. O adulto precisa estar atento, percebendo seus
sinais não para direcionar ou adequar o desenho da criança a uma norma ou
padrão estético, mas sim para alimentar o processo de investigação artístico
que é tão caro às crianças. Dessas investigações e descobertas é que nascem as
interações, um processo dinâmico que proporciona o desenvolvimento da linguagem
artística e o cultivo da curiosidade infantil.
No trabalho educativo de crianças
pequenas, é muito importante que o professor crie contextos para a exploração
dos processos ligados à produção artística. Nesse sentido, pode organizar
propostas de atividades que despertem a curiosidade das crianças e o olhar
investigativo sobre diferentes aspectos da vida cotidiana: como posso expressar
o que sinto, o que desejo, como vejo e me relaciono com o outro, uma ideia etc.
* fonte: http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/BibliPed/Documentos/Publicacoes/Cad_Rede/cinco%20atualizados/Desenho_grafica.pdf
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