segunda-feira, 25 de junho de 2012

PERCURSO CRIATIVO NO DESENHO





PERCURSO CRIATIVO NO DESENHO
Silvana Augusto

O desenho, ao contrário do que muitos pensam, nem sempre é figurativo. O desenho de figuras, tão valorizado pelos adultos, é fruto de um processo intenso de exploração e de muita pesquisa tanto gestual quanto visual.
Quando bem pequenas, as crianças ainda não têm desenvolvido a noção de permanência do objeto. Para um bebê, os objetos não existem separadamente, não existem senão quando está diante dele, em um dado momento. Isto, que é uma característica própria do desenvolvimento infantil, não representa uma limitação. Vale lembrar que os primeiros anos da vida de uma criança encerram uma fase de grande desenvolvimento motor, importante para a construção das condições necessárias ao domínio do conhecimento do mundo simbólico e a aprendizagem das linguagens.
Nessa fase da vida é a inteligência sensório motora que ganha espaço nas experiências infantis. Então, pintar ou mesmo rabiscar são, para a criança pequena, puro fazer, prazer do movimento.
Para a criança pequena, não está em jogo a representação, o desenho propriamente dito, importa apenas o prazer de brincar com seu próprio corpo e interagir com os materiais, seus pares e o adulto que é sua principal referência no CEI. Por isso a pintura é tão significativa para os menores. A plasticidade do material é um convite para o fazer mais próprio da faixa etária. O percurso desta linguagem começa muito cedo e pode ser alimentado no CEI, durante os anos que marcam a passagem da criança na instituição.
Os gestos estão fortemente presentes na pintura infantil, mas também aparecem na produção gráfica, apontando para um percurso bem diferente. O gesto também aparece marcando a superfície desde os primeiros rabiscos da criança. O desenho propriamente dito aparecerá no percurso infantil um pouco mais tarde e, contrariando o que muitos educadores costumam pensar, não é intencional desde o início. Ao desenhar, a criança brinca: na maioria das vezes, sobretudo quando é pequena, não sabe ao certo o resultado desta ação, mas isso não importa, pois é o convite parabrincar com os meios (tinta, giz de cera, carvão etc.), materiais (pincéis, rolinhos, esponjas etc.) e suportes (papel, papelão, chão, parede etc.) que realmente lhe interessam. A brincadeira pode resultar em uma figura ou não.
Ao brincar desenhando ou desenhar brincando, a criança vai descobrindo novos prazeres e desafios dessa experiência, novas formas de se relacionar com o mundo. À medida que as crianças adquirem domínio sobre seu corpo e os movimentos que ele produz, vão conquistando a condição de atuar sobre a plasticidade da matéria. Logo percebem que seus gestos produzem marcas estáveis. E então, aquilo que já fora puro fazer, gesto no espaço, um movimento tão característico das crianças até 2 anos, vai se constituindo como um desenho.

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