PERCURSO CRIATIVO NO DESENHO
Silvana Augusto
O desenho, ao contrário do que
muitos pensam, nem sempre é figurativo. O desenho de figuras, tão valorizado
pelos adultos, é fruto de um processo intenso de exploração e de muita pesquisa
tanto gestual quanto visual.
Quando bem pequenas, as crianças
ainda não têm desenvolvido a noção de permanência do objeto. Para um bebê, os
objetos não existem separadamente, não existem senão quando está diante dele,
em um dado momento. Isto, que é uma característica própria do desenvolvimento infantil,
não representa uma limitação. Vale lembrar que os primeiros anos da vida de uma
criança encerram uma fase de grande desenvolvimento motor, importante para a
construção das condições necessárias ao domínio do conhecimento do mundo
simbólico e a aprendizagem das linguagens.
Nessa fase da vida é a
inteligência sensório motora que ganha espaço nas experiências infantis. Então,
pintar ou mesmo rabiscar são, para a criança pequena, puro fazer, prazer do
movimento.
Para a criança pequena, não está
em jogo a representação, o desenho propriamente dito, importa apenas o prazer
de brincar com seu próprio corpo e interagir com os materiais, seus pares e o
adulto que é sua principal referência no CEI. Por isso a pintura é tão
significativa para os menores. A plasticidade do material é um convite para o
fazer mais próprio da faixa etária. O percurso desta linguagem começa muito
cedo e pode ser alimentado no CEI, durante os anos que marcam a passagem da
criança na instituição.
Os gestos estão fortemente
presentes na pintura infantil, mas também aparecem na produção gráfica,
apontando para um percurso bem diferente. O gesto também aparece marcando a
superfície desde os primeiros rabiscos da criança. O desenho propriamente dito
aparecerá no percurso infantil um pouco mais tarde e, contrariando o que muitos
educadores costumam pensar, não é intencional desde o início. Ao desenhar, a
criança brinca: na maioria das vezes, sobretudo quando é pequena, não sabe ao certo
o resultado desta ação, mas isso não importa, pois é o convite parabrincar com
os meios (tinta, giz de cera, carvão etc.), materiais (pincéis, rolinhos,
esponjas etc.) e suportes (papel, papelão, chão, parede etc.) que realmente lhe
interessam. A brincadeira pode resultar em uma figura ou não.
Ao brincar desenhando ou desenhar
brincando, a criança vai descobrindo novos prazeres e desafios dessa
experiência, novas formas de se relacionar com o mundo. À medida que as
crianças adquirem domínio sobre seu corpo e os movimentos que ele produz, vão
conquistando a condição de atuar sobre a plasticidade da matéria. Logo percebem
que seus gestos produzem marcas estáveis. E então, aquilo que já fora puro fazer,
gesto no espaço, um movimento tão característico das crianças até 2 anos, vai
se constituindo como um desenho.
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