terça-feira, 26 de junho de 2012

POSSIBILIDADES DO DESENHO PARA ALÉM DO LÁPIS E PAPEL


O lápis de cor e o papel são os materiais mais tradicionais entre as crianças, presentes em todas as unidades de educação infantil. É possível desenhar sem lápis e papel? Um desenho e uma linha, pensados além da maneira tradicional de desenhar, rompem com a ideia de que a produção artística deve ser apenas observada. O desenho entra em contato com o corpo: corpo de quem produz, de quem vivencia o desenho. As linhas passam a existir também em outros espaços e criam novos ambientes.
Esta maneira de pensar o desenho propõe a interação das crianças e adultos com o trabalho desenvolvido pelos pequenos. Pensar sobre a relação do desenho com o espaço e as diversas possibilidades de construí-lo pode aproximar a produção infantil da arte contemporânea por meio do processo vivido. Ao ampliarmos nosso olhar para o que pode ser considerado desenho na arte contemporânea, encontramos uma diversa gama de possibilidades para o que pode ser chamado de “linha desenhada”, desta maneira, vamos conhecer o trabalho da professora Gabriela Maria Telo, da EMEI Parque Cocaia II, que caminha inspirado nesse pensamento. Ela propõe às crianças de seu grupo uma pesquisa de linhas que não são as riscadas no papel e suas relações com os espaços. Com o objetivo de pesquisar a linha matérica e transformar o espaço do desenho, a professora ofereceu ao grupo de crianças alguns rolos de barbantes.
Iniciou a proposta com uma roda de conversa sobre a atividade que seria desenvolvida, explicou para a turma que fariam desenhos sem utilizar lápis, canetinhas, tinta ou qualquer outro material riscante. Colocou ainda para seus aprendizes que o espaço organizado para este trabalho seria a sala de aula.
Para o primeiro momento desta proposta, foi planejado criar um desenho único pelo espaço com o envolvimento de todo o grupo. A professora, então, perguntou para as crianças como poderiam concretizar esta ideia e várias sugestões surgiram: “É só colocar o barbante no chão e fazer o desenho com ele” – diz uma criança -, “a gente pode ficar segurando”.
Outra criança sugeriu o desenho de um grande foguete pelo espaço. Os alunos gostaram desta ideia e a partir das sugestões dadas pelo grupo foram desenhando juntos, imaginando, expressando movimento no ar.
Em seguida, a professora dividiu a turma em pequenos grupos e ofereceu pedaços de barbante para cada participante. O desafio, agora, seria criar outros tantos desenhos pelo espaço com esses pedaços de linha. A partir desse momento, a sala de aula transformou-se em um território lúdico habitado pelos desenhos das crianças.
Interessante notarmos como essa proposta foi capaz de promover a pesquisa das espacialidades, transformar ludicamente o espaço além de alimentar a criatividade e curiosidade infantis. Considerando que a sensibilidade visual pressupõe a percepção do espaço, nesta proposta as crianças foram autoras desse “espaço desenhado”, relacionando a linha com a  arquitetura e os objetos tridimensionais que ocupavam a sala.
A proposta de trabalho com a linha matérica foi [apresentada aos professores no curso sobre Percursos Criativos do Desenho. Flávia, professora da EMEI Antônio Gonçalves Dias, ficou curiosa com a discussão promovida em seu grupo e levou a ideia para a sua escola. Ela nos conta: “Propus que brincássemos com linhas de barbantes e de lãs. Ao brincar com as linhas, ao explorar o material, as crianças perceberam que poderiam criar desenhos sem usar os lápis e acharam muito divertido, logo se envolveram no jogo de desenhar. Manuseando-as sobre a mesa, organizaram desenhos de vários objetos. Organizando e reorganizando, elas iam desmanchando e contornando outros objetos, se deliciando ao perceber que poderiam criar com sua imaginação inúmeras figuras. Em outro dia, sugeri que brincássemos com o barbante espalhando-o pelo espaço, podendo criar construções tridimensionais, como por exemplo: cabanas, casinhas, labirintos, etc.” O exemplo da professora Flávia mostra como é possível às crianças transformar o espaço com o desenho,  explorando a linha matérica.
Por meio do uso de materiais cotidianos como o barbante, as cadeiras e a arquitetura da sala de aula a professora organizou os materiais e os espaços como estratégia para sensibilizar o grupo de aprendizes para esta nova maneira de perceber o desenho e desenhar.
O que foi planejado pela professora teve o foco no processo do trabalho, desta maneira, além de aproximar a produção das crianças com os processos criativos propostos na atualidade,
legitimou a marca da produção infantil ao proporcionar um olhar sensível para os desenhos produzidos pelo grupo, que expandiram seus gestos para fora dos limites do papel.


“Desenhar é várias coisas.
É lançar a linha no espaço, anarquicamente, mas com aquela
ordem interna que só quem faz sabe.
É estabelecer um continente, que aparentemente
não contém nada, mas onde pode caber tudo
(e onde cabe o vazio que é nada e tudo ao mesmo tempo).
É criar relações entre coisas, dando pesos e valores.
É falar de objetos e fazê-los falar.
E finalmente é lançar um olhar para a realidade, procurando e
achando significados.”
Ester Grinspum

* Texto de: Sheila Christina Ortega

    

Um comentário:

PROFESSORA LOURDES DUARTE disse...

Oi Priscila, améi suas postagens, cada vez com conteúdos informativos e ricos em conhecimentos. Parabéns!! Uma linda noite e um final de semana abençoado. Bjuss