Vemos que quando brinca, a
criança traça linhas e deixa suas marcas no espaço, expressando as diferentes
maneiras como olha e compreende o mundo. Portanto, observar as linhas,
pesquisar sua movimentação é parte do trabalho do desenho.
Mas, a atividade de desenhar
envolve mais do que colocar uma ideia no papel. Muitas vezes, a ideia surge ao
desenhar, vem da observação dos traços, da movimentação, da expressão gestual.
Essa é a perspectiva que encontramos na proposta elaborada pela professora
Flávia Kioko Alexandre Ito. Vamos ver como Flavia pensa no desenvolvimento
corporal das crianças em relação às experiências de desenhar.
Ao registrar a pesquisa de
materiais gráficos e suportes inusitados, uma atividade realizada com seu
grupo, a professora Flavia relatou o seguinte: “Primeiramente, organizei na
mesa alguns materiais e suportes: sulfite, cartolinas, colorset, laminado,
papelão ondulado, papel cartão (diversas cores), revistas, lápis de cor, giz de
cera e canetinhas.
Conversei com as crianças,
explicando que poderiam escolher o tipo de papel, o tipo de lápis para fazer o
desenho e que poderiam desenhar como quisessem. Em grupos, elas se deslocavam
até a mesa para escolher os materiais. Ao pegar papel de cor preta,
experimentavam as cores que podiam ser boas para desenhar sobre preto: muitas
já sabiam que o lápis e o giz branco produzem riscos mais fortes, que aparecem
mais. Então, experimentavam as possibilidades desses materiais, explorando
maneiras de usá-los, investigando como esses materiais riscam os suportes,
trocando informações com os outros colegas.”
Nesse registro, percebemos que a
partir do que foi preparado pela professora, as crianças tiveram possibilidades
de escolher como gostariam de desenhar. E como a professora poderia contribuir
para os avanços nessa produção? Ao observar o que foi desenvolvido pelas
crianças, o que já sabiam e o que buscavam descobrir, a professora Flávia
procurou registrar essas experiências e planejar a continuidade da sequência
das atividades.
Sua intenção era apontar caminhos
para cultivar o desenho das crianças, proporcionando-lhes experiências visuais
transformadoras. A seguir, acompanhamos um pouco desse processo de construção
do planejamento
da professora Flavia. Ela nos
contou: “Na primeira vez que ofereci esses materiais, muitas crianças
desenharam sentadas em suas cadeiras, utilizando as mesas para apoiar o papel.
Outras descobriram novas soluções corporais: em pé, de joelhos utilizando a
cadeira como apoio. Num outro dia, ofereci os mesmos materiais e sugeri que
desenhassem sentadas no chão. Elas acharam meu pedido estranho, mas eu expliquei
a elas que desenharíamos para experimentar. Foi muito interessante, pois
observei que até mesmo para desenhar, a expressividade corporal se faz
presente.”
No fragmento abaixo podemos ver
como a professora Flávia continua propondo desafios e problemas a seu grupo e
aponta, ainda, a dimensão lúdica ligada à experiência. Ela nos conta:
“organizamos alguns materiais na mesa e prendemos cartolinas na lousa para que
desenhassem ali mesmo. Conversamos como poderíamos desenhar de um modo diferente,
por exemplo: como desenharíamos sem usar as mãos? O que poderíamos utilizar
para realizar os desenhos? As crianças responderam que poderíamos utilizar a
boca, os pés e a cabeça. Eles se divertiam muito, como se fosse uma
brincadeira, um jogo”.
Chama a atenção a forma como a
professora construiu relações entre as experiências com a expressividade das
linguagens artísticas, com foco no desenho, e as experiências de exploração da
linguagem corporal visando promover possibilidades do gesto do desenho.
Os registros dessa professora
podem ser inspiradores para outros professores na medida em que relatam como é
possível explorar a linguagem do desenho de crianças pequenas e sua relação com
outras linguagens. Mostra como se cria condições para esse processo de
construção de sentidos, enriquecendo um espaço mais criativo para o surgimento
das narrativas infantis.
“As pessoas sem imaginação
podem ter tido as mais imprevisíveis aventuras, podem ter visitado as terras
mais estranhas... Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta ser
vivida: também precisa ser sonhada .”
Mário Quintana, em Caderno
H.20 Cadernos da Rede
*texto de: Cinthia S. Manzano
2 comentários:
Olá, passei para lhe fazer uma visitinha. Quando der passa no meu também.
*) bjs
http://ateliebellyartes.blogspot.com.br/
Oi amiga!Parabéns pelas postagens.TÔ levando algumas ideias para o meu trabalho.Agosto tem datas especiais tem sorteio festivo no meu blog.Passe lá e confira!Bjos!
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