domingo, 19 de agosto de 2012

BARULHO, RUÍDO, SOM E SILÊNCIO



A ESCUTA MUSICAL COMO CONTEÚDO DE APRENDIZAGEM
Carlos Silva
Pensar sobre o que diferencia os eventos que dão título a este texto é uma tarefa que pode oferecer boas pistas de como tratar o trabalho de musicalização na educação infantil. O uso ordinário e cotidiano destas expressões acaba por plasmar as nuances de significados que podem colorir uma reflexão e, sobretudo, nossa vivência com barulho, ruído, som e silêncio.
Nesse momento, o silêncio será preterido para que possamos centrar um pouco mais nossa atenção sobre os outros elementos, muito embora seja quase que unânime a noção da dependência entre eles. Aliás, o silêncio é quase sempre concebido como a ausência de algo. Seria um exercício instigante pensá-lo como a presença de algo que não o que normalmente se entende como seu oposto, isto é, uma manifestação sonora qualquer.
Interessante perceber nos encontros de formação cujo tema foi “escuta ativa e exploração musical” que, de uma maneira geral, as expressões “barulho” e “ruído” carregam uma conotação de incômodo, muito frequentemente associadas a distúrbios quantitativos em relação à expressividade ou organização de linguagem, consequentemente indesejável e, tanto quanto possível, evitável. Ao passo que a expressão “som” traz uma imagem positiva ou, no mínimo, de concessão. No entanto, do ponto de vista da definição da física acústica qualquer fenômeno acústico é som, seja o resultante da execução de uma melodia de Bach ao violino ou o de uma britadeira num canteiro de obras. Por outro lado, um toque de celular com a melodia do Carinhoso de Pixinguinha que irrompe em meio a uma sessão de meditação pode constituir um ruído traumático e pesaroso.
Desenvolver e alimentar essa discussão com as professoras nos encontros foi muito controverso, porém, produtivo. A produção sonora das crianças na educação infantil está comumente vinculada a barulho e ruído, e som, via de regra, é relacionado a algo exterior à produção delas. Nos relatos das professoras é bastante constante a menção ao som da música do CD, dos passarinhos, dentre outros.  Por em foco que na contemporaneidade a produção musical é contextual foi revelador, principalmente quando pensamosna importância de assumir a expressão sonora da criança como sendo potencialmente musical, desde que seja realizado um trabalho consistente de observação que fundamente propostas planejadas de intervenções que levem ao desenvolvimento da sensibilização musical.
Os trabalhos pessoais sobre o desenvolvimento dos temas propostos nos encontros de formação revelaram evidências do tema acima exposto. As próprias participantes reconheceram que, subliminarmente, tratam a questão dessa maneira. A professora Ana Paula F. Manocchi Molinari do CEI Parque das Paineiras conclui uma reflexão sobre a proposta de trabalho de exploração sonoro-musical da seguinte maneira: “O CEI tem uma limitação no tempo, consequência da rotina. O que não pode permanecer é o pensamento a respeito da bagunça, do barulhoe, muitas vezes, que as crianças não vão conseguir realizar as atividades plenamente”. No entanto, ao relatar o desenvolvimento da mesma atividade em outra parte do Trabalho Pessoal, ela se refere da mesma forma ao que as crianças estavam fazendo:
“Feita a roda de conversa iniciamos a distribuição de materiais, que na verdade gostaríamos que tivessem sido escolhidos pelas crianças, (...). Eles fizeram bastante barulho! Quando comentamos esse aspecto no encontro, ela mesma percebeu que esta passagem é difícil de ser conscientizada e assumida de maneira consequente. Nem mesmo a dimensão positiva é fácil de ser consciente. Ela mostrou a gravação da proposta e, no desenrolar dos acontecimentos, deixa de se referir à execução das crianças como barulho e passa a usar expressões como som e música. No entanto, a professora não havia reparado nesse fato, bastante notório para quem assiste à gravação com foco em como são percebidos e interpretados os eventos “som, barulho e ruído” na perspectiva que estamos apontando aqui. “      
Outro exemplo é o da professora Carla Rodrigues Ávila Garrote da EMEI Maria Vitória da Cunha. Na proposta desenvolvida por ela com seu grupo, a partir do tema exploração sonora de objetos presentes no cotidiano, relata: “Nesse primeiro momento exploraram o espaço da sala, movimentando-se livremente e utilizando os materiais que quisessem para produzir sons. Rapidamente encontraram o que queriam e começaram a fazer aquele “barulhão”. Já no relato e avaliação da proposta seguinte, referente à construção sonora a partir de cotidiáfonos e instrumentos construídos, usa apenas expressões como: som, resultado sonoro conseguido, sons pesquisados, apresentação para o grupo com o respectivo som, dividiram-se em grupos com materiais de sons parecidos, e por aí vai.
Foi muito perceptível a transformação de perspectiva com relação ao significado desses termos e as possíveis consequências que podem advir do aprofundamento da consciência e da mudança de paradigmas do que seja música, produção e construção musicais, no que diz respeito ao que é reconhecido social e culturalmente, mas principalmente no que se refere à inserção pedagógica dessas mudanças na abordagem da ampliação da musicalidade das crianças.


PAISAGEM SONORA
Liliana Bertolini

A professora Ivone Aparecida Lima Freitas, da EMEI Recanto Campo Belo da DRE Capela do Socorro realizou o “passeio sonoro”, uma proposta para ouvir a sonoridade do ambiente.  
Ela nos conta sua experiência no relato a seguir:
“A primeira proposta consistia em parar para ouvir a sonoridade do ambiente. Após a sensibilização para a escuta dos sons que são ouvidos, na sala de aula de olhos fechados e relatar os sons ouvidos, as crianças foram convidadas a passear pela escola e parar em diversos ambientes como o pátio, a cozinha, a secretaria, para ouvir e relatar os sons ouvidos.
Em seguida, as crianças desenharam os sons da escola. Por fim, propus que conversássemos sobre isso na roda de conversa: Quais os sons que vocês mais gostaram? Quais os sons que foram desagradáveis? E qual foi o som mais forte e o mais fraco que pudemos perceber durante esse passeio?
A ação reflexiva construída juntamente com as crianças trouxe uma certa consciência da qualidade sonora do ambiente e uma possível transformação na direção de uma melhora da paisagem sonora da unidade escolar. Além disso, envolvem aprendizagens como o desenvolvimento da memória auditiva, da distinção de diferentes timbres (qualidades) e intensidades de som, que fazem parte de conteúdos específicos do Ensino Musical.”
Para essa proposta foram necessários alguns passos para prepará-la, como pensar qual o local adequado e em que momento do dia ela seria realizada. Para isso, é preciso que o professor conheça sua turma e experimente fazer essa atividade mais de uma vez, em momentos e locais diferentes. No relato
dos professores de CEI e EMEI que aplicaram essa proposta com as crianças notamos a surpresa com o envolvimento que elas demonstram e a alegria ao participar da escuta e comunicar os sons ouvidos por elas. Com o tempo, elas demonstram incorporar essa atitude da escuta e a manifestam em situações de brincadeira, roda de histórias, no refeitório, entre outras.
Outro aspecto importante para o professor é lembrar que a fala e a audição caminham juntas, e neste momento ele poderá observar se as crianças estão ouvindo bem.



7 comentários:

Pati Alves disse...

Bem interessante i texto.

Anônimo disse...

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muito interessante parabéns pelo texto.

Anônimo disse...

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