"Era uma vez , assim vai começar esta linda história que eu agora vou contar...
Era uma vez uma professora que contava histórias trocando seu tempo por experiências e encantamento, falava de aventuras, heróis, príncipes e princesas. O tempo foi passando e as coisas foram mudando, as pessoas não eram mais as mesmas e parecia que as crianças também não eram as mesmas e a professora parou de contar histórias porque precisava cumprir o programa e histórias passou a ser perda de tempo, também com tanto vídeo game, DVD, TV, Internet, não sobrava tempo. E aquela professora alegre, leve começou a sentir o peso desse tempo ficando com as costas arqueadas e com uma expressão de quem perdeu o "poder". E foi num desses dias de desânimo que eu a encontrei e sem que lhe dirigisse a palavra ela começou a me dar lições dizendo que era chegada a hora de olharmos para dentro de nós mesmos e buscar um sentido para nossa existência e que eu não devia deixar que esse mundo frenético, violento, apressado me contaminasse, porque ela me tornaria uma contadora de histórias uma espécie de guardiã de um tesouro que ao final ela me daria assim que aprendesse suas lições que eu teria o "poder" que ela não perdera apenas guardou pois sabia que iria me encontrar e que com ele seria capaz de abrir ouvidos e corações cultivando o bem maior do ser humano que é a capacidade de se humanizar. E assim as lições começaram, lições que segundo ela eu jamais poderia esquecer...
1) Busque um espaço aconchegante que estimule a imaginação, pode ser debaixo de uma árvore, numa biblioteca, etc.
2) Tenha uma mala ou um baú cheio de objetos que poderão ser seus coadjuvantes, fantoches, chapéus, sinos, alguns instrumentos musicais simples como um tambor, pau-de-chuva, gaita, flauta.
3) Que tal vestir-se de forma diferente na hora do conto!
4) Existem alguns itens que são essenciais:
A escolha conto
- Em primeiro lugar não é só aquilo que chamamos tradicionalmente de conto, mas também capítulos de novelas, trechos de romance, fábulas, mitos, lendas e até mesmo algumas crônicas são contáveis. O essencial é que tenham uma linguagem clara e sejam estruturados de maneira a serem entendidos quando contados em voz alta. É de grande importância a etapa da escolha do conto e os contadores devem estar atentos para aqueles textos que realmente os motivam, despertando um interesse especial para contá-lo.
A linguagem
- Durante o período da escolha do conto, não se pode perder de vista o fato de que ele foi escrito inicialmente para ser lido. Caberá ao contador avaliar se ele poderá também ser entendido enquanto falado ou contado em voz alta. A sua linguagem deve ser clara e não muito rebuscada a ponto de roubar a naturalidade do contador. Quando está sendo contado deve-se evitar as chamadas muletas de linguagem - palavras ou expressões que se repetem sem necessidade e que, muitas vezes denunciam a insegurança do contador com relação ao texto, ao mesmo tempo que pode empobrecer a narração.
Mensagem
- O objetivo primeiro da narração de histórias é estético, ou seja, deve-se buscar antes de mais nada, a beleza da palavra falada, o prazer em se contar e ouvir uma história. Entretanto, sabe-se que todo conto traz em si, de maneira mais ou menos explícita, alguma mensagem.
A preparação do conto.
Para preparar um conto vários recursos podem ser utilizados:
A análise
Pode ser um recurso valioso no início do preparo e diz respeito à identificação da partes da estrutura do conto. Aqueles que são estruturados linearmente com introdução, desenvolvimento ou enredo, clímax e desenlace, são mais facilmente entendidos pela platéia.
A visualização das imagens
Todo texto ao ser lido suscita no leitor algum tipo de imagem ou seqüência de imagens. O contador de histórias se beneficiará se adotar como hábito o exercício consciente da visualização de imagens sempre que for ler o texto. A partir da primeira leitura isso já pode ser praticado. A visualização da imagem facilita a memorização do texto.
A disciplina na repetição
No processo de montagem do conto, a repetição se faz necessária muitas e muitas vezes até que o conto flua facilmente e nos possibilite então trabalhar alguns outros aspectos, como o olhar, a voz, os gestos. Essa etapa do treinamento é ainda solitária e de preferência deve ser feita já em voz alta num ambiente propício que nos deixe à vontade o bastante para errar e repetir.
A narração propriamente dita
A naturalidade - É uma característica básica dever ir de mãos dadas com a credibilidade. Mesmo os trechos mais absurdos de um conto, devem ser contados com uma tal naturalidade, como se realmente o narrador acreditasse no que conta.
O olhar - Em se tratando de platéias menores, em ambientes mais intimistas, o contador não pode prescindir de trabalhar o seu olhar durante a narração. Ele deve se preocupar em oferecer o conto a toda a platéia e aqui e ali olhar nos olhos de um e de outro. O que deve ser evitado é aquele olhar não intencional sem direção, ou aquele olhar perdido, às vezes voltado para si mesmo.
Ritmo - A voz é um recurso por excelência do contador, o conto é para fazer acordar e não dormir. Ficar atento à entonação pois ela é o colorido da voz que imprimirá a emoção ao texto.
Expressão
Conhecer o próprio rosto e corpo as expressões que definem sentimentos, gestos, ocupação de espaço usar mãos braços, o jeito de se deslocar no espaço.
Poder - Está na capacidade de seduzir o ouvinte, de prender sua atenção, de encantá-lo É a capacidade de conduzir o outro ao imaginário e para isto é necessário que haja prazer. O contador precisa sentir prazer ao contar. Se não há prazer, o conto não acontece.
Improvisação - Para o contador improvisar é deixar acontecer em cena, sem nenhuma preparação prévia, uma criação pessoal que tenha qualidade como se fizesse parte do "script". A primeira exigência da improvisação é a de sentir e agir de acordo com o momento. A técnica vem espontaneamente.
5- E quanto a platéia! Reuna as crianças. Para crianças pequeninas de 0 a 6 anos por ser uma fase mágica, escolha histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza ( humanizados), história de crianças, de repetição e acumulativas ( Dona Baratinha, A formiguinha e a neve), histórias de fadas.
Para as de 7 anos escolha histórias de crianças, animais e encantamento, aventuras no ambiente próximo: família, comunidade, histórias de fadas e escolares.
Para as de 8 anos histórias de fadas com enredo mais elaborado, histórias humorísticas.
9 anos, histórias de fadas vinculadas à realidade.
De 10 anos em diante, aventuras narrativas de viagens, explorações, invenções, fábulas, mitos e lendas.
Não esqueça os adultos, principalmente aqueles que como diz Rubem Alves compreendem que história não é só para se divertir, pois, acreditam que ela tem o poder de transfigurar o cotidiano. Adultos que têm dentro de si uma criança que com certeza têm medo da solidão.
Nunca me esqueci das lições daquela professora, depois daquele encontro nunca mais a vi, hoje sou contadora de histórias e acredito como muitos, que histórias são como presentes e através delas compartilhamos ética, beleza, estética, vida...
Entrou por uma porta e saiu pela outra, quem quiser que conte outra...
Edna Imaculada Inácio de Oliveira
Professora do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais
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