terça-feira, 17 de março de 2009

VERDADES E MENTIRAS SOBRE A CÓPIA


1. A cópia ensina a escrever
Não é verdade. A cópia tem sido considerada uma atividade de escrita, utilizada com freqüência nas séries iniciais com o objetivo de ensinar a escrever. A ela se atribuem poderes que não possui: nenhuma criança aprende a produzir escrita, copiando. Copiar é transcrever, não é escrever – escrever é uma forma de expressar por escrito, de representar por escrito o que se pretende dizer.



2. A cópia pode ser uma atividade significativa na escola
Verdade.
A cópia pode ser uma atividade escolar interessante, se estiver relacionada aos interesses dos alunos ou fizer sentido para eles – quando, por exemplo, copiam letras de músicas ou poemas de que gostam, receitas de guloseimas, nomes, endereços e telefones dos amigos, nomes de canções de um cantor preferido etc. Por meio dessas atividades os alunos podem aprender de maneira significativa o procedimento de copiar.



3. A situação de cópia pode surgir espontaneamente dos alunos
Verdade
. As crianças copiam espontaneamente textos que lhes interessam e/ou que querem preservar – e a cópia, sendo significativa, deixa de ser um ato mecânico. É o que acontece com alunos que possuem um caderno ou uma agenda com adivinhações, anedotas, versos de amor, de humor etc., e trocam com os colegas de forma que dia a dia a coleção aumenta. Entretanto, o que é contraditório é o fato de que, justamente na escola, onde se valoriza tanto a cópia, essas situações espontâneas e significativas não são aproveitadas e incentivadas.



4. A cópia favorece o aprendizado de algumas convenções da escrita como: escrever da esquerda para a direita e transcrever os escritos da lousa usando a linha do caderno adequadamente.
Verdade.
Mas isso só é possível se houver intervenções por parte da professora durante a atividade. Essas convenções o aluno não aprende sozinho, precisam ser ensinadas.



5. A cópia ajuda os alunos a aprenderem ortografia
Não é verdade.
Acreditar que se aprende ortografia por meio da cópia é o mesmo que dizer que a ortografia é um conhecimento de natureza perceptiva, aprendido passivamente e que por meio da repetição da forma correta os alunos passarão a escrever certo. Hoje sabemos que aprender a escrever corretamente depende de refletir sobre o sistema de escrita e sobre as normas ortográficas.
Durante certas atividades de cópia, algumas questões sobre a ortografia podem até se colocar para os alunos, desde que lhes sejam dados oportunidade e tempo adequado para que possam pensar sobre como as palavras são escritas, a fim de poder refletir sobre a ortografia correta.



6. A cópia é uma atividade para melhorar a caligrafia dos alunos.

Não é verdade. Muitos professores acreditam que dando páginas e páginas de cópia para os alunos fazerem, eles desenvolverão uma boa caligrafia. O que a prática tem mostrado é o contrário: ao final de uma página inteira de cópia, muitas vezes as escritas estão piores do que as do começo. A cópia só é feita com capricho quando os alunos vêem sentido em copiar. E não podemos esquecer que a qualidade da caligrafia dos alunos depende do objetivo e do destinatário da escrita e do tempo que têm para produzi-la.



7. A cópia pode ser um encontro com a gente mesmo
Verdade
.
O que copiamos pode ser revelador dos nossos gostos, sentimentos, desejos, emoções etc. Quando lemos um texto e ele nos parece instigante, automaticamente tendemos a reler e muitas vezes temos desejo de copiar (para poder retomar em outros momentos) aquilo que nos pareceu belo, marcante, diferente etc. Freqüentemente, os registros desse tipo são pontos de referência de como certas coisas foram importantes em nossas vidas, num determinado momento, e nos ajudam a conhecer nossas próprias mudanças.




8. A cópia exige atenção e concentração e alguns cuidados
Verdade.
Ao copiar, não se pode pular palavras ou frases que desfiguram o sentido do texto, não se pode deixar de transcrever os sinais de pontuação, não se pode desconsiderar os espaços entre as palavras e os parágrafos etc., porque, afinal, o que se copia é o que foi produzido por outra pessoa e deve, portanto, ser transcrito exatamente como foi escrito. Tudo isso exige atenção. E alguns cuidados adicionais são necessários nas situações de cópia de livros, como anotar toda a referência que garante o respeito à fonte original e permite posteriormente, se necessário, o acesso a ela – nome do autor e da obra, edição, capítulo, página etc. Mas existe uma circunstância na qual errar na cópia pode ser sinal de progresso: é quando o aluno acabou de aprender a ler. É comum encontrar professores se perguntando por que determinado aluno que antes copiava tão bem começou a errar tanto na cópia. Em geral isso acontece porque antes o aluno copiava letra por letra, já que ele não sabia ler. No entanto, quando começa a ser capaz de ler, deixa de copiar letra por letra e… erra.



9. A cópia é um recurso que tem sido utilizado de forma indiscriminada e sem uma finalidade plausível
Verdade.
A cópia muitas vezes é destinada ao treino ortográfico, com a finalidade de memorização da escrita correta das palavras. Em outros casos, é revestida de um caráter disciplinar: preencher o tempo e manter os alunos ocupados, impedindo a conversa e a desordem, acalmar os alunos agitados, punir os indisciplinados pela bagunça que fizeram, transmitir ensinamentos por meio da repetição reiterada etc. Nada disso faz sentido, pois dessa forma a cópia se constitui numa atividade mecânica, o que acaba não favorecendo nem os objetivos relacionados ao aprendizado do que se pretende garantir com ela, nem o aprendizado dos procedimentos necessários para copiar de forma adequada.




10. Enquanto copiam da lousa ou do livro, os alunos lêem.
Não necessariamente,
porque ler ou não durante a cópia depende da forma como é feita a proposta e do sentido que a atividade tem para os alunos. Os alunos podem copiar mecanicamente, isto é, utilizando apenas alguns recursos de discriminação visual, copiando parte por parte, sem ler o que estão transcrevendo. Tanto isso acontece que as pesquisas históricas sobre as práticas de leitura e escrita na Idade Média – anteriores à invenção da tipografia, quando todos os livros eram copiados à mão – mostram que nem todos os monges copistas* sabiam ler.



*Equipe Pedagógica do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores

2 comentários:

Tia Ana disse...

Nossa Priscila achei interessante essa postagem sua, sou coordenadora e para mim foi útil, já mandei para o e-mail das minhas professoras. Bjs!!!

Jenny Horta disse...

Excelente e conciso! Interessante como certas práticas se perpetuam ao longo de gerações. Muitos professores atuais nem se recordam das intermináveis e maçantes cópias que fizeram em seus tempos de aluno e repetem as mesmas práticas!